Category Archive : Literários

Cabanas

            Agora eu era um Apache, herói, e meu cavalo… A primeira lembrança que tenho de uma cabana era a minha tendinha apache, que eu adorava brincar de bang-bang. Quando ela sumia, eu improvisava outras com os sofás, as almofadas e os lençóis!

Nunca vi uma criança que não gostasse de brincar de barraca: ali era o império da alegria, quando o tempo ficava suspenso e os sonhos eram a realidade!

            Sabe o que eu mais gostava? Quando os adultos vinham brincar com a gente. As cabanas deles eram bonitas, sofisticadas, maiores…

Um mar de folhas enfeitando. A Natureza fazia parte da Alegria, do Jogo! Na nossa não tinha espaço nem para tomar um suco, mas a imaginação nunca é pequena. Nas deles, tinha até para tomar refeições!

            Natureza, Alimento, Sonhos, Imaginação, Alegria! Eles até recebiam visitas, que coisa! Gente que vinha de longe para compartilhar a felicidade. Natureza, Alimento, Sonhos, Hospitalidade… Alegria! E aquela brincadeira alegre e feliz que perseverava… E nós ouvíamos de outros que, ainda que não víssemos, sentíamos!

            Todo ano estava lá, ao nosso lado, aquele grande cientista judeu, Einstein, com sua maneira inovadora de saber a Natureza… A Luz! Estava lá a trovoada musical de Mahler! Os sons alimentando com intensidade e fervor as almas! Estavam conosco as sábias lições de Hillel, ensinando que para que os sonhos virem realidade, todos precisamos, juntos, coletivamente, construir…

            Uma coisa interessantíssima que eu só consigo reconhecer agora. Parece até que as névoas do desconhecimento foram ficando mais rarefeitas enquanto a Luz do entendimento foi banhando essas memórias oníricas… Sir Rabbi Jonathan Sacks também aparecia por lá!

            A Imaginação, na cabana, é a Luz de Toda Gente! Todos Juntos, edificando as estruturas do mundo com Sorrisos, Alegria e Justiça Social!

É lá que o tempo se suspende! É la que Passado, Presente e Futuro se encontram! Debaixo da sucá que a Poesia dos Afetos vale tanto quanto a Prosa dos laços de sangue!

TODOS JUNTOS…

SORRINDO!

ANDRÉ NAVES

Defensor Público Federal. Escritor e Professor. Especialista em Direitos Humanos e Sociais, Inclusão Social e Economia Política. Comendador Cultural.

www.andrenaves.com

Instagram: @andrenaves.def

Va Pensiero

            Dia 6 de outubro de 2024. Agora são, aproximadamente, 08:30. Já votei… Meus grandes amores: Ana Rosa, Democracia e Ópera. Só vou mandar esse texto para averiguação e publicação após o fechamento das urnas, lá pelas 17:00. Detestaria influenciar a manifestação de vontade apaixonada, mas vestida de razão, de ninguém. É que algumas coisas fora do comum têm acontecido aqui em São Paulo…

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Absurdo!

Absurdo!

            – Absurdo você fazer isso, Aldir! Porra! Que merda! Marquei consulta com você, psiquiatra, tomei o endereço do consultório, e quando chego aqui me deparo com essa bodega! Eu devia desconfiar… Quem busca o lirismo da humanidade com a música não consegue ser sério…

            – Calma, Di! Até parece que você não busca, com suas pinturas, a poesia do povo… Eu aprendi a fazer isso com você. Na “Samba” você me ganhou: dá pra sentir o batuque da sensualidade na tela. Toma uma comigo e sossega o faixo. Você, Di, ensinou o Brasil a enxergar o Brasil! Desde o catálogo de 22 até o “Baile Popular”, é puro suco da gente. E aqui, a gente pode pedir umas e outras, comer uma moelinha acebolada, ouvir os sons do mundo…

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Platero

            Não sei bem como foi…

Nem lembro direito em que escritório a gente tava! Acho que era na Comedoria do SESC Pompeia. Era lá sim!

A memória é esse suco da verdade. Os fatos só existem pelo que a gente experimenta. Como um suco de caju! Será que falta doce? Será que amarra a boca? Será que tá aguado? A gente tem de tomar para descobrir se tá no ponto!

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Aroma de Saudades

            Hoje em dia a turma cria os filhos diferente. Na minha época, não… Acho que tudo era mais simples, mais verdadeiro, mais genuíno… Não sei… É o saudosismo que vem tomando conta de mim. Acho que acontece com todo mundo: a gente vai ficando velho e meio bobo…

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Maratona

Eu gostaria de ter escrito esse capítulo no dia 25 de julho… Hoje já é dia 29. Como diz o ditado, “sempre que D´us vê nossos planos, Ele ri”… Também, pudera, os planos são Dele! Claro que a gente tem de se planejar para tudo. Mas, também, nós devemos ter a flexibilidade para adaptar tudo o que foi planejado às novas circunstâncias.

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Alma

            Lembram lá atrás quando eu falei de Walter Gropius e da escola Bauhaus de arquitetura e design? Eu até usei uma fonte não-serifada, que rimava mais com o sabor modernista… Lembraram? Faltou um detalhe que, de tão importante, era a alma daquela história…

            Pra contar essa história de som e fúria a gente precisa de uma trilha sonora especial. Intensa e solene. Emoção pura. Sinfonia n. 2 de Gustav Mahler, “Ressurreição”! Pra quem gosta, e eu aprecio bastante, que tal uma taça de vinho? Uma dose de whisky? Uma cachacinha?

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Enxergar!

            E o carro se perdia na estrada reta. Plantações intermináveis para todos os lados. Caminhões que passam. Usinas. Cheiro de cana queimada, processada, colhida. Pamonhas da beira…

Enxergo o Futuro, a Prosperidade, a Esperança!

            Enxergo!

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Deserto sem Respostas

            Chega a ser engraçado se não fosse trágico… As minhas ideias que floresciam como lírios do campo ressecaram em um profundo e silencioso deserto: um deserto sem respostas… Acho que a vida é assim mesmo… Atravessamos a aridez inóspita em busca de respostas que de tão evidentes acabam se tornando invisíveis…

            O Otto Lara Resende contava uma história bem interessante de um senhor que morava há mais de 32 anos num mesmo apartamento. Lugar bonito, na frente do mar de Copacabana. Sempre fiquei imaginando a biblioteca desse homem. Será que tinha tapetes? O que ele gostava de ler? Ele fazia as cruzadinhas? Lia o obituário?

            Vamos voltar para o leito do enredo… Aquele senhor morava lá há mais de 32 anos. 32… Passava pelo porteiro todo santo dia. Cumprimentava. Até caçoava do futebol… Mas nunca parou para ver mesmo. Acho que nem o nome sabia. De tanto ver, ele não via. Que coisa, né?

            Um dia entrou no elevador. 32 anos, veja bem. Não estou falando de 32 horas… Tinha um cartaz pregado lá. Foto do porteiro bem grande. Morreu. Foi nesse instante que nosso protagonista descobriu seu nome, seu rosto… Descobriu que ele tinha família. Foi a primeira vez que aquele senhor enxergou o porteiro.

            Na morte, enxergou. Puxa vida!

            A história termina aí. Mas a gente entende quando vai desertificando tudo. De tanto ver, não vê… Sabe o caminho que a gente passa todo dia? Deserto. Sabe o que a gente só ouve? Grande silêncio que ecoa a falta de respostas…

            Hoje eu tô meio que escrevendo só umas ideias sem nexo. Talvez seja pela minha gripe. Gripe passa. Não é desculpa… Pra quem já voltou do coma, o que é um estadozinho gripal? Quem sabe seja o cansaço? Escrever é meu prazer e a fadiga passa lá longe, onde o vento assobia e faz curva.

            Deve ser pela tensão do momento. De ver tanta gente hipnotizada, repetindo a ilusão desértica de um silêncio sem respostas nem ideias. Parece até uma zumbilândia… De tão óbvias, as respostas nunca são ditas. Pior, mentiras ganham a ribalta! Prefiro o silêncio ensurdecedor que a sedução de um canto das sereias que leva à ruína e à morte!

            MENTIRAS!

            Mas no deserto em que se tornou minha mente, parece até que estou vendo alguma coisa brotar. Um pingo de esperança no meio daquela secura da morte. Aquela que nunca resseca, nunca morre, a última no deserto.

            ESPERANÇA!

            UMA ROSA VERMELHA!

André Naves

Le Chaim

            Sucesso como sempre! Aplausos!

Daniel Baremboim, o encantador dos pianos, tinha feito mais uma de suas mágicas! Tocar o “Rach 3” não é pra qualquer um… Ainda mais com tanta emoção, esperança…

Sabe quando a gente ouve até a poesia do piano? Parece até que ele está conversando, falando… “Shalom”…

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Homenagem às Mães!

            Hoje não há nomes nem lágrimas! Todas merecem a homenagem das rosas… Será que elas mesmas não são suaves como o perfume das pétalas, mas obstinadas como os espinhos? Que bom seria um mundo livre de barreiras, obstáculos, exclusões: que agradável seria o mundo se fora o colo de uma mãe!

            Sabe a mãe pelicano que, na imagem, rasga o próprio peito para dar de comer aos filhotes? A mãe nunca sente o sacrifício imposto para o desenvolvimento da autonomia e da individualidade dos seus… São almas enobrecidas pela bondade e pela dureza: são torres de sabedoria!

            Os exemplos valem mais do que as palavras, e elas agem, criam, choram e sorriem!

            Claro que há exceções… Para tudo há… Mas para que sujar esse texto com tantas marcas fúnebres e tenebrosas? Melhor falar da luta e não do luto. O sorriso nasce da ternura, ainda que os obstáculos sejam gigantescos.

            Eu fico até sem palavras para tentar homenageá-las. A preciosidade de seus gestos representa a mais límpida claridade da Luz: as barreiras existem para serem destruídas! Nenhum filho ficará para trás, no que depender de sua mãe.

            Mãe Gentil!

            Quero enaltecer uma mãe em especial, e junto com ela, elevar um altar para todas! Vou contar uma história que traz a imagem de como as mães são a personificação da Disciplina, da Perseverança e da Alteridade!

            Naquele tempo eu havia acabado de me formar. Minha recuperação, ainda como nos dias de hoje, ainda não é completa… Na verdade, nunca será!

            A falta de trabalho me incomodava… Não que eu fosse um desocupado, pelo contrário! Já às seis eu costumava despertar para iniciar minhas atividades terapêuticas. Às dez, já arrumado, começava minha rotina de estudos. Às vinte, eu dava, com minha mãe, uma caminhada noturna.

            Entretanto, ainda que as terapias físicas e mentais se mostrassem valiosíssimas para meu desenvolvimento pessoal, e meus estudos fossem o sacrifício a ser feito para adentrar na senda da Defensoria Pública, eu ainda me sentia um inútil e sem valor.

            Eu estava construindo um bom caminho, que me trouxe até aqui e agora. Na época, no entanto, eu não tinha essa percepção… O desespero tomava conta de mim, assim com uma erva daninha, quando não retirada a tempo, prejudica os campos produtivos.

            É por isso que sempre gosto de reafirmar minha religiosidade! Foi para lá que eu corri nesse tempo sombrio, e é lá que eu descobri o conforto e os valores necessários para aproveitar melhor essa época atual, de Luzes e Perfumes.

            Mas voltando ao tempo em que só a Lua alumiava meu congá, a vergonha da inutilidade aparente me dominava. Gosto muito de nadar, mas acostumei-me a fazer isso isolado, quando não há ninguém mais vendo. Talvez seja resquício desse tempo…

            As cicatrizes, e tenho diversas, psicológicas são mais reais que as físicas, ainda que muito menos visíveis…

            Por isso, naquele tempo, eu acordava com o canto do galo, e, após um café bem preto, eu me aquecia e já ia nadar. Não importava Sol, chuva ou temperatura… Eu estava lá, não por apenas divertimento, mas para me preparar para os próximos passos em meu caminho.

            Após um dia intenso de estudos preparatórios, por volta das 8 da noite, minha mãe e nosso cachorro me chamavam para uma caminhada. Eu precisava relaxar, mas também reaprender a caminhar e treinar minha marcha, além de conversar.

            Naquelas caminhadas, eu arrastava, e ainda arrasto, meu pé, tropeçando nos pequenos montinhos pela trilha… Nessas horas minha mãe falava para mim, num carinho enérgico: “A ponta do pé tem de ir para a ponta do nariz”!

            Era uma maneira de me lembrar dos detalhes para que meu caminho fosse mais produtivo e proveitoso… Os pequenos detalhes que, de tão importantes, acabam por se tornar os principais.

            Foram tempos de solidão, em que eu, sem perceber, me isolava cada vez mais. Parecia que eu havia construído um casulo para me refugiar de tudo e de todos… Mas dentro de mim, fervilhavam reflexões e ponderações…

            Busquei ser útil em locais em que eu poderia fazer a diferença, sem, claro, descuidar da minha preparação… Asilos, organizações religiosas e políticas, além de várias iniciativas de assistência social.

            O mundo precisava de refresco, e eu queria ser parte da solução, e não do problema. Não era me fechando em minha caverna interior, num individualismo exagerado que beirava o egoísmo, que a vida melhoraria.

            Pelo contrário! É na construção de estruturas sociais justas, fundadas nos sólidos valores éticos transmitidos pelas palavras, pelo trabalho e pelo exemplo de meus rochedos primordiais que teremos, todos, uma vida mais iluminada!

            Agora, aqui, escrevendo essas linhas numa tarde banhada pelo Sol, consigo perceber com maior nitidez que tudo pelo que passei, as trevas mais profundas causadas pelo isolamento e pelo desespero, foram ladrilhos necessários para que meu caminho ficasse ainda mais belo.

            Ainda hoje ainda ouço minha mãe nas nossas caminhadas noturnas me alertando que os detalhes também são essenciais. Que nossos objetivos são construídos pelo esforço constante e consciente…

            “Na ponta do nariz”

André Naves

Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos, Inclusão Social e Economia Política. Escritor e Comendador Cultural. Conselheiro do grupo Chaverim. Embaixador do Instituto FEFIG. Amigo da Turma do Jiló. Membro do comitê de inclusão do LIDE.

Vovó Telê

            Prestidigitação… Ilusionismo… Sabe o mágico de circo? Enquanto todo mundo tá lá vidrado na minissaia da ajudante, ele vai lá e pimba! Tira o coelho da cartola. A gente sempre fica com uma pulga atrás da orelha tentando descobrir o truque…

            SEMPRE!

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Metalinguagem

            Meu desejo sempre foi traduzir a sabedoria ancestral dos gigantes de outrora em fantasias, sonhos e memórias. Algo como Carlos Gomes fez quando musicou o espetáculo do nascimento de um novo dia em sua Alvorada… Como traduzir em música o levantar do Astro Rei?

            Como explicar o lirismo e o sabor do sentir em palavras? Como iluminar a ignorância do desconhecido? A racionalidade busca lógicas para justificar os desejos mais essenciais, mas as emoções acabam sendo as regentes do nosso comportamento.

            Será que Champollion teria decifrado a pedra da Rosetta sem saborear o espírito egípcio? Eu não tenho essa resposta. Pra ser sincero, prefiro nem ter… O fato é que ele decifrou a alva chave para traduzir aqueles hieróglifos e banhá-los com as Luzes da Ilustração…

            No entanto, assim como uma simples pedra marcada pode gerar tamanha iluminação, novos conhecimentos são sementes poéticas para toda a Humanidade: Razão e Emoção num abraço fraternal na jornada em busca da Verdade.

            Por vezes, somos afogados nas águas violentas da tormenta. O mundo, tão cru e bárbaro, sempre me lembra que nem sempre o sonho é uma trilha aceitável. Que covardia é essa, para que eu me esconda numa poética alienante?

            É nessas horas que eu subo nos ombros dos gigantes. É de lá que eu vejo mais longe… Mas não adianta subir até as estrelas se eu não entrar nas cavernas do meu coração…

            É lá que eu encontro as ferrugens, mas também ferramentas para a construção constante do caminho que leva às luzes da Sabedoria!

É lá que eu encontro a pedra e a chave para traduzir a alma popular!

AM ISRAEL CHAI!

André Naves

Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos, Inclusão Social e Economia Política. Escritor e Comendador Cultural. Conselheiro do grupo Chaverim.

Ophicleide

        Hoje em dia é muito fácil. É só a gente entrar no Google que as respostas vêm, como formigas comendo restos. Na minha época tudo era diferente… Melhor, diriam os saudosistas…

            Tinha a Barsa, a Mirador, a Larousse… Até o Manual do Escoteiro Mirim eu tinha! Pra quem gosta de passado, amarelo como ouro, tudo é motivo de lembrança! As memórias são rios que passam, mas nos deixam felizes e molhados.

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Mana…

– Alô, Mana… Oi…

– Oi! Como vai?

– Muitíssimo obrigado por me atender.

– Para! É um prazer atender, ainda mais quando é artista…

– Artista? Eu nem saí da casca do ovo ainda… Estou na Faculdade de Direito… Minha vida é outra…

– Artista sim. Daqui uns anos amadurece essa fruta. Aliás, por qual porta você entrou nas Arcadas? Você nunca escreveu nada? Pintou? Desenhou? Interpretou?

– Como você sabe disso?

– Ele me contou… Na verdade nem sei se foi Ele, Ela ou uma Poesia…

– Quem?

– Ele. O Altíssimo. O Criador. O Grande Arquiteto do Universo.

– Como assim?

– Vamos deixar simples? Foi um Sabiá que me contou. Só que esse aí lembrava muito o Rebe…

– Lubavitch?????

– Era meio uma mistura dele com o Frei Damião… Estou confusa… Já faz tempo que vim pra cá. Amanhã eu volto.

– Como cê sabe?

– Sabe a Irmã Dulce? Ela me contou…

– Mana do céu! Eu nem conhecia esse seu lado…

– Que lado?

– Religioso. Nunca imaginei…

– Nem eu… Na verdade eu sempre fui, mas não tenho religião. Acho que continuo assim. Quando você voltar vai entender.

– Voltar?

– É… Uns 45 dias…

– Ué… Não tô entendendo!

– O Tempo é diferente. Uma vez o Raoni me contou a história de um curumim doido para pegar o saci. Ele jogava a peneira naquele redemoinho de vento e poeira, mas nunca acertava. O vento dançava, desenhava com a terra… Pegar o saci era impossível! O curumim se mordia de inveja… Queria morar no vento igual o saci! Entender o tempo é igual a caçar saci: não dá!

– Ou dá… Com a peneira do lirismo… O Aldir fala disso!

– Artista, não falei? Quer teimar com o Sabe Tudo? Ele apareceu para você também?

– O Rebe?

– O Aldir…

– Não. É que lembrei de uma música dele. As memórias sempre pegam a gente de calça curta… Marejam os olhos, dão nó nos gargomilo, encantam a alma… Mas, Mana… Você me falou de voltar…

– Então ele ainda vai aparecer e te explicar tudo. O que eu sei é que os médicos falaram para meus pais que eu ia embora, mas eles se esqueceram do imponderável. Sabe a música do Chico? Então, tô voltando… Vou voltar para a minha Pasárgada… Nessa hora os médicos devem estar com sua mãe…

– E aí?

– Vão falar que você nunca mais voltará para o colo do lar. Mas você voltará. Depois, falarão que a paralisia vai fazer acampamento no seu corpo… Nada. Depois, ainda, vão falar que os passos nunca mais estariam com você. Bobagem! Por fim, que as trevas dominariam seus olhos… Engano…

– Então eles são errados?

– Claro que não! Mas o milagre é um monumento que serve pra gente lembrar que não é o Sabe Tudo. HU-MIL-DA-DE!

– Então eu vou voltar? Igual a você?

– Isso! Não é bem igual, né… Cada um tem sua vida né? Seu caminho… Eu volto e vou reciclar… Mudar é a joia humana! Vou ensinar quem não pode essa preciosidade!

– Ele também muda sempre?

– Nada é mais precioso que Ele! É uma metamorfose ambulante, diria Raul…

– E eu?

– Ele vai te contar melhor, ainda… O que sei é que você volta! Com certeza! No fim, quem faz sua trilha é você. Ele sempre fala que as bençãos são como a chuva: descem para todo mundo. Mas também são igual uma plantação de goiaba: só cultivando, cuidando, servido, as bençãos perfumam e dão doce!

– O Rebe gostava de goiaba?

– Não sei. Devia gostar! É goiaba, né…

– Mas ele falava isso?

– Claro que não! Mas a sabedoria é tipo uma joia: a gente tem de fazer de acordo com o barro do mundo. Se não, ela voa como o álcool evaporando… Num segundinho, nem cheiro dela…

– Então, a gente se esbarra por lá…

– Lembre-se disso: ARTISTA!

– Artista?

– Tchau!

André Naves

Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos, Inclusão Social e Economia Política. Escritor e Comendador Cultural.

Fígaro!!!

            Flanar me faz muito bem. Caminhar assim, sem rumo, vendo as pessoas e paisagens, sentindo o Sol e o vento… As delícias do ar um pouquinho refrescante pela manhã, os cachorros conduzindo os donos, tudo é matéria-prima para minhas letras, para o meu dia e para a minha alma…

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Cores da Esperança

            O que são as Artes? Desconfio que ninguém seja capaz de defini-las, até mesmo porque essa seria uma definição tão absurda quanto inútil. O ser humano pensa, imagina, sonha… Por isso faz Arte!

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Senhor Brasil

            Chora viola!

            Lenta e calmamente anuncia o causo que se avizinha…

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O Acorde

            Tem modas que matam. Elas sujam de sangue quem as empunha e quem delas é vítima. Modismos, caprichos: o recheio de gente vazia… Esses que parecem um pastel de vento, que jogaram no lixo o pensamento… Avacalharam o estudo!

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Senta no Próprio Rabo!

        Tem gente que senta no rabo pra falar do rabicó! Sabe esse povo que só vê problema nos outros? Sartre, irônico e casmurro, aspirando seu Gitanes, diria que “o inferno são os outros”…

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