Auxílio-Brasil e a volta da Inflação.

Auxílio-Brasil e a volta da Inflação.

A sabedoria popular ensina que “gato escaldado tem medo de água fria”. Entretanto, o desespero frente à atual situação, que parece configurar um retorno inflacionário, deve ser substituído pela coordenação de cautela, de prudência e da sistemática análise acerca dos fenômenos que têm efetivamente ocorrido. Devemos ser cautelosos e prudentes já que ainda não há nitidez, e daí a necessária análise criteriosa, acerca da permanência ou da transitoriedade do fenômeno inflacionário.

A verdade que se faz aparente, mas que pode escamotear uma amarga surpresa, é a de que não há a configuração de causas estruturais para o crescimento inflacionário. Ele é decorrente da desorganização das cadeias internacionais de produção, da falta episódica de insumos e das incertezas sanitárias e geopolíticas. Nesse sentido, o alto desemprego e a farta capacidade ociosa da produção globalizada são indícios de que a volta da inflação é circunstancial.

Entretanto, entender que a inflação é episódica não significa que sua duração será rápida. Uma inflação circunstancial pode degenerar em evento permanente se não forem tomadas as medidas adequadas ao seu controle. Assim, pode-se afirmar que se faz preciso um rearranjo fiscal global que estimule a retomada das cadeias produtivas globais em sua plenitude, desde que não perdidos os controles fiscais e monetários.

Nesse cenário que se descortina, o Brasil é um potencial ator que exerce papel principal. Como grande produtor de insumos, além de detentor de altos graus de desemprego e capacidade produtiva ociosa, pode-se receber mais investimentos produtivos tendentes a suprir essas lacunas, desde que não se perca de vista a segurança fiscal, por meio de avanços no aprimoramento do quadro institucional brasileiro, com vistas à simplificação, à desburocratização e ao aumento da eficiência do ambiente econômico.

O Auxílio-Brasil, portanto, coordenado com reformas que devem ser pautadas pelo espírito do aprimoramento institucional, cumpre a importante função da proteção social que, com base na equidade de oportunidades e da Justiça, aumentará o consumo agregado, ancorando as expectativas de desenvolvimento produtivo, a confiabilidade na nossa ordem econômica e a estabilidade, já que atenuados os efeitos perversos da exclusão social, política.

Resumindo, com a inclusão social possibilitada pela conjugação do Auxílio-Brasil com os necessários aprimoramentos institucionais, as expectativas de expansão econômica, aliada à confiança no crescimento produtivo nacional, atrairá os necessários investimentos que possibilitarão ao Brasil a entrada num ciclo de prosperidade econômica. 

ANDRÉ NAVES

Defensor Público Federal, ex-Chefe da Defensoria Pública da União em São Paulo. Conselheiro do Chaverim, grupo de assistência às pessoas com Deficiência. Comendador Cultural. Escritor e colunista do Instituto Millenium, da Revista de Tecnologia 360, além de diversos outros meios de comunicação. www.andrenaves.com