A Realidade não cabe em Memes

A Realidade não cabe em Memes

A população mundial encontra-se aprisionada pelos mecanismos de valorização do Valor (Produção), que devem ser tão mais rápidos quanto se quer extrair mais e mais rendimentos do trabalho (que, muitas vezes, consiste na intensificação de “valoração” do Capital Improdutivo). Essa intensificação do ciclo valorativo, em que se necessita auferir mais renda em menos tempo, tornou-se uma condição para a viabilidade de todo ator na arena produtiva.

É aí que a contradição interna ao mecanismo se explicita: com menos tempo livre para ler, estudar, refletir, criticar, ou ainda para o lazer e para o consumo, o processo depressivo de crises produtivas se instala: ora, se não há tempo para a leitura, para o estudo, e para a reflexão, destróem-se as bases da criatividade e da inovação. Quando não há lazer, aniquila-se o bem-estar do trabalhador, minando-se a coesão social e sua própria capacidade saudável de reprodução. E com a perda da capacidade de consumo, o processo produtivo fenece, fulminando todo o ciclo valorativo.

Dessa maneira, quem há de ler algo de maior complexidade, estudar novos aspectos contraditórios da realidade, ou refletir acerca do mundo (concreto e histórico) em que se está inserido? A busca é pela resposta simples, que sóem estar miseravelmente erradas, às mais complexas questões… É daí que se pode explicar o sucesso dos “memes”, “tweets” e “lacrações”.

Para tudo nessa vida, podemos encontrar respostas simples, elegantes e erradas, já predizia Mencken. Os pequenos textos da Internet (dos quais fazem parte os “memes”, os “tweets” e as “lacrações”) constituem expressão atualíssima dessa assertiva: na medida em que apresentam pitadas de humor, ironia e sarcasmo, seduzem as multidões incautas pela sua aparência de simplificada veracidade.

A tigrada, então, castrada do necessário tempo para o devido pensamento reflexivo acerca das próprias condições em que se encontra inserida, na necessidade, demasiado humana, de encontrar respostas, acaba por aceitar e replicar, acriticamente, diga-se, essas pequenas pílulas graciosas de bobagem.  

Nada é “simples assim”!

Andre Naves

Defensor Público Federal, Professor, Escritor e Palestrante interessado na ampliação e concretização dos Direitos Humanos, pela Cultura, Literatura e Arte.

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