Stranieri Ovunque, Estrangeiros em todo lugar!

Stranieri Ovunque, Estrangeiros em todo lugar!

A 60ª Bienal de Artes de Veneza, sob a curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico do MASP, trouxe à tona não apenas uma exibição de obras de arte, mas também uma profunda reflexão sobre a condição humana, destacada pelo lema “Stranieri Ovunque” – estrangeiros em todo lugar. Este lema ressoa como um lembrete poderoso de que todos nós, em algum momento de nossas vidas, nos tornamos estrangeiros, seja em relação a um lugar, a uma cultura ou até mesmo a nós mesmos.

A individualidade é intrínseca à nossa identidade, composta por uma miríade de características que nos tornam únicos. No entanto, essa individualidade só ganha significado pleno quando inserida no contexto da coletividade. Somos seres sociais, interdependentes, e é na interação com os outros que encontramos meios de desenvolver nossa humanidade e trilhar nossos caminhos.

No entanto, as peculiaridades individuais muitas vezes se transformam em barreiras que dificultam a inclusão social plena. Essas barreiras são frequentemente alimentadas pelas relações de poder presentes na sociedade, resultando na marginalização de grupos minoritários ou precariamente incluídos. Sejam elas baseadas na orientação sexual, raça, etnia, origem social, classe, nível educacional, deficiência ou outras características, tais barreiras são evidências das contradições internas à sociedade.

A Bienal de Veneza, por meio de suas obras de arte, expõe essas contradições de maneira franca e incisiva, convidando-nos a refletir não apenas sobre as estruturas sociais excludentes existentes, mas também sobre nossa própria responsabilidade na perpetuação ou desconstrução delas. Somos todos, de uma forma ou de outra, participantes dessas estruturas, seja como parte de grupos dominantes ou minoritários.

Portanto, mais do que uma simples exposição de arte, a Bienal de Veneza serve como um chamado à ação, instando-nos a trabalhar em prol de estruturas sociais mais sustentáveis, inclusivas e justas. Somente através do reconhecimento de nossa interconexão e do compromisso com a alteridade, podemos construir um mundo onde a diversidade seja celebrada e todos tenham a oportunidade de se sentir em casa, em vez de estrangeiros, em qualquer lugar que estejam.

André Naves

Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos, Inclusão Social e Economia Política. Escritor e Comendador Cultural.

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