O Investimento Público Brasileiro e a Estruturação Social Inclusiva
O investimento público desempenha um papel crucial no desenvolvimento de uma nação. No Brasil, a eficiência desses investimentos deve ser medida não apenas pelo retorno econômico, mas, principalmente, pela capacidade de promover uma estrutura social mais sustentável, inclusiva e justa. Isso implica que os recursos públicos devem ser direcionados para aumentar a dignidade das pessoas e das coletividades, entendida aqui como a possibilidade de autonomia e de cumprimento efetivo dos Direitos Humanos.
A dignidade humana é um conceito central nas discussões sobre políticas públicas. Ela representa a possibilidade de uma pessoa ser autônoma, ou seja, ter a liberdade de decidir seus próprios caminhos sem depender inteiramente de ajuda externa. A autonomia não exclui o auxílio alheio, mas este deve ser uma escolha, não uma necessidade. Para que a autonomia individual se concretize, é fundamental que os Direitos Humanos sejam garantidos e efetivos. Esses direitos incluem:
Vida: Direito de viver e se desenvolver em plenitude.
Liberdade: Possibilidade de se locomover, expressar, crer e sentir sem interferências externas.
Igualdade: Equivalência de oportunidades para o desenvolvimento individual.
Propriedade: Direito aos bens, ideias, trabalho e crenças.
Segurança: Proteção contra a criminalidade e garantia de segurança alimentar, sanitária e educacional.
Investimentos públicos eficientes são aqueles que aumentam a eficácia dos Direitos Humanos. Para ilustrar esse ponto, analisemos algumas políticas específicas:
Valorização Real do Salário-Mínimo: Essa política é eficiente porque aumenta a autonomia e dignidade dos trabalhadores, permitindo-lhes uma vida mais digna e menos dependente de auxílio externo. Um salário-mínimo valorizado contribui para a segurança alimentar, habitacional e educacional, essenciais para a dignidade humana.
Políticas de Pisos Previdenciários e Assistenciais: Garantir que os benefícios previdenciários e assistenciais sejam pelo menos equivalentes ao salário-mínimo é uma medida que protege os mais vulneráveis, proporcionando-lhes uma rede de segurança financeira. Isso é crucial para a dignidade, pois assegura uma subsistência mínima e permite a essas pessoas planejar um futuro com mais autonomia.
Vinculação de Recursos Mínimos à Educação e à Saúde: Investir obrigatoriamente em educação e saúde é uma forma de garantir que todos os cidadãos tenham acesso a serviços básicos essenciais. A educação, em particular, é um pilar fundamental para a autonomia, pois capacita os indivíduos a tomarem decisões informadas sobre suas vidas.
Embora os investimentos mencionados sejam fundamentais, o orçamento público brasileiro enfrenta desafios que requerem ajustes. No entanto, essas adequações devem focar em eliminar desperdícios e ineficiências, e não cortar investimentos que promovam os Direitos Humanos. A eficiência do gasto público deve ser avaliada pelo impacto na dignidade e autonomia das pessoas.
O investimento público no Brasil só será verdadeiramente eficiente se contribuir para a estruturação social em bases mais sustentáveis, inclusivas e justas. Isso significa priorizar políticas que aumentem a dignidade e a autonomia dos cidadãos, cumprindo os Direitos Humanos de maneira efetiva. Exemplos concretos, como a valorização do salário-mínimo e a vinculação de recursos à educação e saúde, demonstram como políticas públicas podem e devem ser desenhadas para promover esses objetivos. Assim, a verdadeira eficiência do gasto público reside em sua capacidade de transformar a vida das pessoas, permitindo-lhes viver com dignidade e autonomia.
André Naves
Defensor Público Federal. Especialista em Direitos Humanos, Inclusão Social e Economia Política. Escritor. Professor. Comendador Cultural. Ganhador do Prêmio Best Seller, pelo livro “Caminho – a Beleza é Enxergar”, da Editora UICLAP. Colunista do “Esh tá na Mídia”, além de diversas outras mídias de comunicação.
www.andrenaves.com
Instagram: @andrenaves.def