Deficiências estão nas estruturas sociais, e jamais nas pessoas: as artes desnudam as contradições e barreiras sociais

Deficiências estão nas estruturas sociais, e jamais nas pessoas: as artes desnudam as contradições e barreiras sociais

A sociedade muitas vezes considera as pessoas com deficiência como com limitações, porém, a realidade é que as deficiências estão nas estruturas sociais, e não nas pessoas. As barreiras e contradições sociais que impedem a inclusão e a igualdade de oportunidades são um grande desafio para as pessoas com deficiência. Essas barreiras podem ser atitudinais, arquitetônicas, de comunicação, entre outras.

A arte tem um papel importante em mostrar as contradições e barreiras sociais que as pessoas com deficiência enfrentam. Um exemplo disso é o romance de Victor Hugo, “Notre-Dame de Paris”, em que o personagem Quasímodo, o corcunda, é percebido amplamente como uma pessoa com deficiência, enquanto a personagem Esmeralda, a bela cigana, não. Isso mostra que a deficiência não é um atributo relativo à pessoa, mas às barreiras estruturais que a sociedade cria.

Da mesma forma, a história da Bela e a Fera é um exemplo de como as barreiras atitudinais podem impedir a inclusão. A Bela, por ser uma jovem mulher que buscava a Liberdade nos livros e na educação, também enfrentava barreiras sociais à inclusão. Já a Fera, além da aparência física, também tinha restrições à Liberdade, o que a tornava socialmente deficiente nesse aspecto.

Outro exemplo é o personagem Shrek, que enfrentava barreiras à inclusão no Reino, mas era plenamente incluído no Pântano, onde superou as barreiras sociais e encontrou a liberdade. Já a Fiona, sua esposa, também enfrentava as barreiras estruturais no Reino por ser uma mulher e princesa, mas no Pântano, superou as barreiras e encontrou sua individualidade. 

Por fim, o personagem Dumbo é um exemplo de como a sociedade pode ver a característica de uma pessoa como uma deficiência como um limite, quando na verdade pode ser uma habilidade única. Em Dumbo suas orelhas gigantes eram vistas como um enorme defeito. A verdade é que ele acabou se tornando a grande estrela do circo já que ele podia as utilizar como potencialidades para voar, mostrando que a deficiência está nas estruturas sociais e não nas pessoas.

A arte tem um papel importante em mostrar as barreiras e contradições sociais que as pessoas com deficiência enfrentam. Ao revelar essas contradições, a arte pode nos ajudar a mudar nossas atitudes em relação às pessoas com deficiência e trabalhar para criar uma sociedade mais inclusiva e igualitária. As pessoas com deficiência não devem ser vistas como defeituosas, mas sim como pessoas que possuem habilidades únicas e que podem contribuir significativamente para a sociedade.

ANDRÉ NAVES

Especialista em Direitos Humanos e Sociais.
Defensor Público Federal. Escritor, Palestrante e Professor. Conselheiro do Chaverim, grupo de assistência às pessoas com Deficiência. Comendador Cultural.
Colunista do Instituto Millenium, além de diversos outros meios de comunicação. www.andrenaves.com