Category Archive : Literários

Falstaffone!

            O Zé adorava repetir uma frase do Borges.

Na verdade, eu não me lembro bem.. Parece que era uma que falava que a Verdade é só mais uma espécie de Ficção.

Esse, assim como outros ensinamentos preciosos, era um vibrante rubi em meio aos pedregulhos de meu talento.

Tinha outro também que ele sempre me ensinou. Era meio que um sacerdócio por parte dele: me treinar, me adestrar, me alfabetizar… O escritor é um operário, resmungava naquele sotaque d´Azinhaga.

Pr´escrever a gente senta e´screve…

Scritor, s´cerdot, op´rário…

Mas tem um rubi que reluz com tanta força em meu tesouro de pedras que parece até o Sol se pondo… Sabe aquelas cores meio alaranjadas, vermelhosas, berrantes, já chegando num vinho, e que ofuscam os olhos?

Pens´na minha Jangada de Pedra… Ela que escolhe os rumos que toma! O ´scritor só põe no papel! Ela caminha pr´onde o vento sopra… Personagem é assim. Ele é o patrão. O ´scritor, op´rário. Manda quem pode, obedece quem tem juízo!

Esses dias fomos, Ana Rosa e eu, na ópera Falstaff, ali no Theatro São Pedro. Ele é um exemplo desse senhorio das letras… Começou como um figurante numa peça de Shakespeare. Aos poucos tomou fermento.

É que o Falstaff tem aquele charme de todo barrigudo, beberrão, quando não tá tão perto… É um anti-herói, meio picaresco, que se mete em confusão, mas sai com artimanha e carisma e acaba gerando um elo de afeto…

Sabe o Leôncio do Pica-Pau? Falstaff é meio assim…

Acabou encantando os italianos. Rossini era meio Falstaff, mas quem colocou a ópera na partitura foi Verdi, o compositor da unificação! Um personagem de Shakespeare cantando em italiano é sempre meio pitoresco… Caricato…

E se eu te falar que acontece muito? Parece até que ele fugiu do fog londrino e escolheu uma temporada de Sol, pizza e vinho na bota! Falstaffone!

Personagem é assim, né? É ele que escolhe os rumos e os passos… O escritor precisa de humildade para entender e agradecer. O verdadeiro reconhecimento é esse: sair de cena!

No fim, escrever não é oratória…

É “escutatória”…

Tutto nel mondo è burla!

André Naves

Defensor Público Federal. Especialista em Direitos Humanos e Sociais, Inclusão Social – FDUSP. Mestre em Economia Política – PUC/SP. Cientista Político – Hillsdale College. Doutor em Economia – Princeton University. Comendador Cultural. Escritor e Professor.

Conselheiro do Chaverim. Embaixador do Instituto FEFIG. Amigo da Turma do Jiló.

www.andrenaves.com

Instagram: @andrenaves.def

Um Galo?

Já contei, né? É tem a turma que vai chegando depois…É sempre assim: cada um chega na sua hora certa! Por isso eu acho legal repetir… Aliás, ninguém morre de mesma história de novo…

Então vambora! Cêis já sabem que eu faço exercícios todos os dias bem cedinho… Antes do Sol raiar, eu já tô de pé.

Read More

Voa, Passarinho!

A amanhece de novo aqui. Chego dos meus exercícios e mergulho no abraço confortável do banho. Visto o terno e me sento diante dos jornais. E então, uma melodia de perfumes, sobe o cheiro do café que a Ana Rosa, com suas mãos de pianista, vai tocando.

É nessa rotina sagrada que o meu camarote ganha vida. Tenho uma varanda, sabe um espacinho de um por um? É lá que pousam os artistas: uma trupe de passarinhos, pinceladas de azul e cinza, como se gotas de céu tivessem caído no meu parapeito. Vêm para o café sagrado das minhas romãs.

Read More

Respostas do Vento

Dia desses eu entrei ali pelo Parque da Água Branca. Estava na feirinha de orgânicos. Céu de Brigadeiro, aquela paz no meio do Arraiá do Chico Bento.

De repente, bateu um vento mais forte, meio de lado, meio redemoinho, e levantou as folhas secas do chão. Foi uma coisa de segundos, aquele redemoinho marrom e silencioso.

Na hora, a cabeça viajou longe.

Read More

Saudades…

Saudades…

Agora… Até coloquei Laufey para tocar.

A voz dela é meio bossa nova, sabe? Dá um clima legal! Na verdade, ainda não sei bem como começar, pai. Escrever pra você é como jogar conversa pro Universo, mesmo que no meio da sala — lembro do sofá agora vazio, sinto as palavras fugirem feito passarinho…

Read More

Formigas de União!

Tem dias em que a gente sai pra andar sem rumo, mas o coração, teimoso que só, já sabe onde quer chegar. Foi num desses feriados de sol frio que eu e a Ana Rosa saímos pra flanar, pra deixar os pés nos guiarem pelas ruas de um bairro que, naquele dia, não era um bairro, era um templo.

A Rua Caraíbas já tremia antes mesmo de a gente chegar. Era um mar de gente, um rio verde e branco que transbordava das calçadas e dos bares. De longe, já se ouvia o canto que arrepia e o batuque que faz o peito tremer junto com o chão.

Era a torcida, aquela que canta e vibra, apinhada num só corpo, tentando espiar entre uma cabeça e outra o jogo que passava nos telões dos botecos… Copa do Mundo de Clubes. O nome já vinha carregado de um peso, de uma distância.

E lá dentro, e lá fora, em cada roda de amigos, a conversa era uma só… A gente olhava para os estrangeiros, os adversários, como quem olha para gigantes. Eram os bichos-papões, as figuras imbatíveis que, no fim da história, sempre ganhavam. A gente, bom… a gente tava ali pra cumprir tabela, pra encher a festa dos outros.

É um sentimento esquisito, esse de se sentir formiga. Uma sensação de que, não importa o esforço, a dedicação, a paixão, a gente já entrava excluído de toda esperança. E era tão maluco isso! Tínhamos invadido Nova Iorque, Miami, a América inteira! Nossas cores pintavam estádios em terras distantes, nossa voz ecoava mais alto que qualquer outra.

Mas, ainda assim, éramos as formigas.

Mas aí, meu amigo, é que mora a beleza que só a caminhada revela. Olhando para a rua, o clube, aquela multidão, eu vi o nosso verdadeiro superpoder. Vi a gente jovem, com o rosto pintado e a energia de quem pode mudar o mundo, abraçada com os de cabelos brancos ao vento, cujos olhos já viram tantas batalhas, tantas glórias e tantas dores.

Vi o diverso se tornando um. Vi o plural enriquecendo o todo.

Ali, naquele canto que passava de boca em boca, estava a herança mais bonita. Aquela tradição que não se aprende em livro, mas que se recebe no colo do pai, no grito do avô, na emoção da mãe. A tradição de se unir, de juntar as vozes, os corações, as esperanças, e entender que essa mistura é o que nos faz Povo. É o que nos dá força. É o nosso verdadeiro escudo.

E no fim das contas, não é que os gigantes, com toda a sua pose e fama, começaram a derreter? Pareciam feitos de açúcar em dia de chuva. A força deles, que parecia inabalável, era frágil perto da nossa fé coletiva.

E as formigas? Ah, as formigas cresceram. Cada passe certo em campo era um passo a mais na nossa estatura. Cada defesa era a muralha da nossa união se erguendo.

A União prevaleceu. A Vitória veio.

Ali, parado no meio da festa, de mãos dadas com a Ana Rosa, eu vi o ensino do futebol… A gente pode até começar a jornada se sentindo pequeno, desacreditado, com o mundo inteiro apostando contra.

Mas quando a gente se junta, quando a fé de um se soma à fé de milhões, a matemática muda.

É… Aquele dia me ensinou, com o grito mais alto que já ouvi: 1% de chance, quando se tem D’us e um povo unido, é 100% de certeza.

Fazendão

Óia, pisar nas Arcadas pra mim é que nem entrar em capela antiga, sabe? Dá um arrepio bão na espinha. Aqueles corredor comprido, a moçada nova aprendendo as lei, parece que a gente ouve o eco dos tempo de antes.

E lá tava eu, lambendo a cria, numa dessas prosa de gente estudada, falando da defesa dos pequeno, das minoria.

Read More

O Ouro do Cinza

Hoje amanheceu do jeito que mais me apetece. Sabe o céu cor de chumbo, o friozinho gostoso? Pois é, hoje era um desses. E eu, particularmente, gosto muito. Tem gente que só vê beleza no céu azul de brigadeiro, no calor do mergulho. E não tiro a razão, são lindos mesmo. Mas o cinza tem seu valor.

Eu tava caminhando como de costume, e os pensamentos avoavam. A cabeça, às vezes, parece uma mossoroca que a gente só desembaraça andando. Decidi dar uma pausa, sentei num banco ali perto da Alameda dos Campeões, no nosso Palmeiras.

Read More

Cavalo – O melhor amigo do Homem!

Tem certas Bênçãos na vida que chegam de mansinho, sem a gente esperar, feito orvalho na folha seca, e que, de repente, transformam o nosso chão. Eu, que sempre tive o pé fincado na roça, na simplicidade do campo, pensava que já conhecia os segredos da terra e a Sabedoria do Agro.

Sabia da tecnologia que brota do suor, da sustentabilidade que abraça a natureza, da inclusão social que floresce nas cooperativas. Mas a vida, essa mestra que nos surpreende a cada curva, guardava um tesouro que eu nem imaginava, um caminho de cura que vinha do mais puro coração do campo: o cavalo, o melhor amigo do homem, e da minha Alma.

Read More

Milagres

Que a luz do Divino ilumine cada recanto da nossa alma, e que a melodia da Esperança embale as memórias que, como rios caudalosos, moldaram o nosso ser.

É com o coração em prece e a alma em festa que me debruço sobre o milagre da recuperação, uma história que é um testemunho vivo da força da fé, do amor que transcende o visível e da mão do Altíssimo que guia os passos da gente.

Read More

A Hora da Verdade

No silêncio acolhedor de uma manhã que misturava o antigo e o novo, José se via diante de uma tela que mais parecia uma janela para o seu passado. Recém-promovido CEO da maior corporação brasileira de agronegócio, ele não conseguia escapar do perfume envolvente de café e bolo de fubá – uma experiência sensorial que, assim como a madeleine de Marcel Proust, o fazia viajar de volta às lembranças da infância, àquelas tardes morenas onde dona Tereza, a copeira, preparava com tanto carinho os aromas que agora se tornavam tão inevitavelmente humanos.

Read More

Rua Nascimento Silva, 107

“Minha filha… Isso faz uns 30 anos e lá vai fumaça!” Dona Terezinha do Badoca, muito amiga da vó Rosinha, sempre falava isso. Lembro daquelas broas de mandioquinha que ela fazia… Quando saíam do forno… Manteiga derretendo… Cafezinho… Bolo de fubá… E eu ali: rouco de tanto ouvir.

            Sempre que ela falava no tempo dos antigo, ela usava essa expressão… “Lá vai fumaça!”… Uma versão mais pitoresca do “tempo do onça” ou “do guaraná com rolha”! Mas duas senhorinhas, amigas desde a infância lá em Minas, só falavam de um tempo da fumaça…

Read More

Inveja e Evolução

Sabe aquele dito da roça, “inveja mata”? Pois lá nos antigamente mesmo, foi capaz de ser assim – Caim de olho no irmão, não deu outra: sangue no terreiro, o primeiro crime da história. A coisa era feia, não tinha papinho de perdão, não. Mas o tempo vai passando e, de grão em grão, a gente aprende um tanto.

Vê só o caso do José, aquele dos sonhos coloridos e casaco todo chique. O povo da família, roído de inveja, não teve coragem de acabar com o irmão feito Caim. Jogaram ele num buraco, venderam feito gado no leilão. Já melhorou um pouco: deu tempo de contar história depois. E olha que da desgraça saiu coisa boa. Virou gente grande lá no Egito, salvou meio mundo de passar fome. A vida tem dessas: aperta, mas ensina.

Read More

Sonhos

Sonhos

            A arapuca de Caim fez com que Abel ficasse vulnerável aos seus golpes. No momento da pedrada final, Esaú desperta. Abre os olhos. Tudo fora um sonho… Caim? Abel?

            Senta na cama. Olha o celular… 03:33… Aviso? Coincidência? As luzes da cidade já se apagaram… Até elas! Puxa vida! Insônia logo hoje!

            E na madrugada, quando os tigres vêm atazanar nosso sono, Esaú levantou. Apertou o botão da Nespresso. O cheiro do café… Pena não ter aquele bolo de fubá que a vó Sara fazia sempre que o vô Abraão recebia visitas…

Read More

Perseverança

            No mundo da literatura tem uma lenda tão asquerosa que me arrepia sempre que penso nela. Camões sofreu um naufrágio (na verdade, ele tripulava um barco que foi devorado pelo mar)…

Naquele clima de barata-voa, no corre-corre do “deusnosacuda”, ele correu para salvar “Os Lusíadas”, e deixou sua “amada” Dinamene, uma Alfonsina ancestral, ter como tumba a pacífica imensidão azul…

            Se essa história torta sobreviveu a todos os cataclismas, ainda hoje sendo contada de boca em boca, é que muita gente acredita que essa incivilidade traiçoeira seja um ato de heroísmo travestido.

Eu, tão ufanista como qualquer Policarpo, sempre admiro as vantagens brasileiras, desde suas raízes também lusitanas. Admirar Camões já é pedir demais!

            Sabe, não me importa que o cidadão escreva os maiores tesouros da última flor… Ele é um lixo de ser humano! Pelo menos ele perdeu um olho na confusão… Camões, o caolho d’Os Lusíadas, que deixou a covardia vencer e perdeu o mais valioso tesouro…

            Mas a gente nunca pode desistir de buscar o entendimento… Lixo também aduba!

Ao que parece, ele se arrependeu. A partir daquilo, sua pena começou a homenagear o Amor. Igual um lobo, uivando para a Lua, ele parece, nos versos dos sonetos, procurar o olhar de sua Dinamene… Olhar submerso, salgado… Lágrimas e mar… Quanto do sal que tempera o mar são lágrimas portuguesas?

            Se pelo menos o tempo voltasse… Mas ele é implacável! Tão grande Amor para tão curta vida! Séculos depois, um outro poeta português, esse sim, enorme em honra e sensibilidade, parecia dialogar com Camões, perguntando:  “Valeu a pena?”…

            Soneto 29 de Camões. De verdade! Nunca li nada tão lindo! O tema é conhecido… Jacó trabalhava para Labão. Amava Raquel. Depois de sete anos, Labão o fez casar com Lia… E Jacó perseverou por outros 7 anos buscando os favores de Raquel, e dizendo que, feliz, ainda trabalharia mais sete se “Para tão longo amor, (não fora) tão curta a vida!”

            Camões, o caolho arrependido! Daria tudo para voltar no dia fatal. Lá seria perdido o maior poema épico ocidental desde a Antiguidade! Os argonautas se perderiam nas brumas do olvido… O velho do Restelo se calaria… O gigante Adamastor ruiria…

            Nesse dia, Dinamene, como uma Raquel, como uma matriarca amorosa e bela, perdoaria… O perdão de quem enxerga.

            No fim, ela teria essa beleza da mulher…

Perseverança e perdão!

André Naves
Defensor Público Federal. Especialista em Direitos Humanos e Sociais, Inclusão Social – FDUSP. Mestre em Economia Política – PUC/SP. Cientista Político – Hillsdale College. Doutor em Economia – Princeton University.  Comendador Cultural. Escritor e Professor.

www.andrenaves.com 

Instagram: @andrenaves.def

Milagres

            Eu já contei pra vocês, mas não custa repetir, que as caminhadas são parte da minha vida. Nelas que eu proseio com D´us, penso, organizo as minhas pendengas da mente… É caminhando que eu me entendo comigo mesmo e com Ele!

            Dia desses, lá na esquina da Diana com a Palestra Itália, eu reparei em algo que sempre esteve lá, mas eu nunca tinha enxergado! Sabe quando a gente se acostuma com a paisagem, e em vez de descobrir o extraordinário no ordinário, a gente faz justo o contrário? A gente se acostuma… Vira rotina… A gente diminui tudo de mais extraordinário em algo simplesmente comum… Ordinário!

Read More

Bibas

            Perdoem-me…

Hoje não escreverei algo doce como de costume…

As minhas crônicas são recheadas de saudades, valores e Esperança. Cada um de vocês, das mais diferentes maneiras e ainda que não o saibam, acabam sendo co-autores das historietas: é que conforme a leitura avança e a imaginação toma conta, as suas saudades se misturam às minhas!

É aí que os sorrisos de cada um sempre brotam.

JUNTOS!

Read More

Hospitalidade

Nem lembro do ano… Acho que era no tempo em que a Romênia era ainda Rumânia… Será? Eu sempre tive das minhas excentricidades, sabe? Um espírito contestador e vaidoso. É da minha natureza deixar todo mundo meio embasbacado com curiosidades sem eira nem beira…

            Imagina uma criança, que nem bem saiu da casca do ovo, falando que Baku é a capital da República Soviética do Azerbaijão, ou que Astana era a do Cazaquistão. Eu nem sabia direito o que era a União Soviética… Mas meu prazer estava em encher a boca e falar.

Read More

Coragem

Quais suas superstições de Ano Novo?

            Todo mundo tem… Desde as mais corriqueiras, como se vestir de branco, amarelo ou outras cores, comer romãs, tâmaras e lentilhas, até algumas mais sofisticadas e charmosas…

Read More

Crônica de Fim de Ano

Eu adoro crônicas. Na verdade, acredito que elas sejam dos estilos literários mais populares que há. É que elas, além de trazerem lirismo às páginas jornalísticas, circulam livremente pelas correntes de e-mail e de whatsapp (de que toda gente reclama, mas que todo mundo lê) durante gerações!

Read More