Sabemos ouvir as Urnas?

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Sabemos ouvir as Urnas?

A Democracia é, como se sabe, o governo do povo. Dito em outras palavras, é a construção de políticas públicas de acordo com os desígnios da maioria, respeitada a dignidade das minorias, sempre com a finalidade de concretização dos Direitos Humanos. Esses não constituem a panaceia aparelhada por certos grupos políticos que tanto desgastam seu próprio conceito. Na verdade, eles podem ser conceituados como a estruturação de iguais oportunidades, a partir das quais, mediante esforço individual, cada pessoa tem a livre oportunidade de desenvolver suas capacidades.

            Importantíssimo, portanto, para o bom funcionamento democrático, que cada recado depositado nas urnas na forma de votos, seja devidamente decifrado. O bom andamento democrático deita seus fundamentos, portanto, na decodificação da função comunicativa inerente a cada escolha eleitoral. Essa, assim, só poderá ser bem entendida por aqueles setores que se mantiverem relacionados à realidade popular, e nunca por aqueles que, descolados do contexto fático nacional, tentam impor agendas e ideologias importadas e pouco eficientes (ainda que, para esses grupos sociais, elas sejam altamente sedutoras).

            O povo não suporta a arrogância! O povo envia recados pelas urnas: cabe aos atores políticos de sucesso decifrá-los. Culpar o cidadão pelo “voto errado” é uma maneira confortável de ampliar a desconexão entre aqueles setores que se arvoram de iluminados e ilustrados e os setores realmente populares. Vale lembrar que a vida cotidiana acontece longe das redes sociais, dominadas pelo “bom-mocismo de conveniências”, pelos “tribunais inquisitoriais da opinião pública” e pelo descolamento com a realidade.

            O clamor proveniente das urnas foi claro: Nada sobre nós, sem nós, disseram os eleitores! Os cidadãos demandam ser atores ativos na construção de estruturas socialmente livres, inclusivas e justas, e não meros espectadores, passivos e tutelados por poucos iluminados divorciados do contexto popular real. O recado foi nítido: não ao artificialismo de narrativas impostas e contrárias aos afetos populares.

            Todo liame com a população deve estar firmemente vinculado ao mundo real e às dificuldades cotidianas. Os valores da Educação, Trabalho, Liberdade, Inclusão e Justiça devem ser concretizado à luz da comunicação democrática saída das urnas. Vale dizer que se o mundo político estiver, efetivamente, buscando a satisfação das demandas populares, ele deverá ter em mente que as reais políticas públicas inclusivas são originadas e oriundas da iniciativa privada.

            Só com a escuta atenta de cada necessidade individual será possível a estruturação do desenvolvimento nacional livre, inclusivo e justo!

ANDRÉ NAVES

Especialista em Direitos Humanos e Sociais.
Defensor Público Federal. Escritor, Palestrante e Professor. Conselheiro do Chaverim, grupo de assistência às pessoas com Deficiência. Comendador Cultural.
Colunista do Instituto Millenium, além de diversos outros meios de comunicação. www.andrenaves.com