Homenagem às Mães!

Homenagem às Mães!

            Hoje não há nomes nem lágrimas! Todas merecem a homenagem das rosas… Será que elas mesmas não são suaves como o perfume das pétalas, mas obstinadas como os espinhos? Que bom seria um mundo livre de barreiras, obstáculos, exclusões: que agradável seria o mundo se fora o colo de uma mãe!

            Sabe a mãe pelicano que, na imagem, rasga o próprio peito para dar de comer aos filhotes? A mãe nunca sente o sacrifício imposto para o desenvolvimento da autonomia e da individualidade dos seus… São almas enobrecidas pela bondade e pela dureza: são torres de sabedoria!

            Os exemplos valem mais do que as palavras, e elas agem, criam, choram e sorriem!

            Claro que há exceções… Para tudo há… Mas para que sujar esse texto com tantas marcas fúnebres e tenebrosas? Melhor falar da luta e não do luto. O sorriso nasce da ternura, ainda que os obstáculos sejam gigantescos.

            Eu fico até sem palavras para tentar homenageá-las. A preciosidade de seus gestos representa a mais límpida claridade da Luz: as barreiras existem para serem destruídas! Nenhum filho ficará para trás, no que depender de sua mãe.

            Mãe Gentil!

            Quero enaltecer uma mãe em especial, e junto com ela, elevar um altar para todas! Vou contar uma história que traz a imagem de como as mães são a personificação da Disciplina, da Perseverança e da Alteridade!

            Naquele tempo eu havia acabado de me formar. Minha recuperação, ainda como nos dias de hoje, ainda não é completa… Na verdade, nunca será!

            A falta de trabalho me incomodava… Não que eu fosse um desocupado, pelo contrário! Já às seis eu costumava despertar para iniciar minhas atividades terapêuticas. Às dez, já arrumado, começava minha rotina de estudos. Às vinte, eu dava, com minha mãe, uma caminhada noturna.

            Entretanto, ainda que as terapias físicas e mentais se mostrassem valiosíssimas para meu desenvolvimento pessoal, e meus estudos fossem o sacrifício a ser feito para adentrar na senda da Defensoria Pública, eu ainda me sentia um inútil e sem valor.

            Eu estava construindo um bom caminho, que me trouxe até aqui e agora. Na época, no entanto, eu não tinha essa percepção… O desespero tomava conta de mim, assim com uma erva daninha, quando não retirada a tempo, prejudica os campos produtivos.

            É por isso que sempre gosto de reafirmar minha religiosidade! Foi para lá que eu corri nesse tempo sombrio, e é lá que eu descobri o conforto e os valores necessários para aproveitar melhor essa época atual, de Luzes e Perfumes.

            Mas voltando ao tempo em que só a Lua alumiava meu congá, a vergonha da inutilidade aparente me dominava. Gosto muito de nadar, mas acostumei-me a fazer isso isolado, quando não há ninguém mais vendo. Talvez seja resquício desse tempo…

            As cicatrizes, e tenho diversas, psicológicas são mais reais que as físicas, ainda que muito menos visíveis…

            Por isso, naquele tempo, eu acordava com o canto do galo, e, após um café bem preto, eu me aquecia e já ia nadar. Não importava Sol, chuva ou temperatura… Eu estava lá, não por apenas divertimento, mas para me preparar para os próximos passos em meu caminho.

            Após um dia intenso de estudos preparatórios, por volta das 8 da noite, minha mãe e nosso cachorro me chamavam para uma caminhada. Eu precisava relaxar, mas também reaprender a caminhar e treinar minha marcha, além de conversar.

            Naquelas caminhadas, eu arrastava, e ainda arrasto, meu pé, tropeçando nos pequenos montinhos pela trilha… Nessas horas minha mãe falava para mim, num carinho enérgico: “A ponta do pé tem de ir para a ponta do nariz”!

            Era uma maneira de me lembrar dos detalhes para que meu caminho fosse mais produtivo e proveitoso… Os pequenos detalhes que, de tão importantes, acabam por se tornar os principais.

            Foram tempos de solidão, em que eu, sem perceber, me isolava cada vez mais. Parecia que eu havia construído um casulo para me refugiar de tudo e de todos… Mas dentro de mim, fervilhavam reflexões e ponderações…

            Busquei ser útil em locais em que eu poderia fazer a diferença, sem, claro, descuidar da minha preparação… Asilos, organizações religiosas e políticas, além de várias iniciativas de assistência social.

            O mundo precisava de refresco, e eu queria ser parte da solução, e não do problema. Não era me fechando em minha caverna interior, num individualismo exagerado que beirava o egoísmo, que a vida melhoraria.

            Pelo contrário! É na construção de estruturas sociais justas, fundadas nos sólidos valores éticos transmitidos pelas palavras, pelo trabalho e pelo exemplo de meus rochedos primordiais que teremos, todos, uma vida mais iluminada!

            Agora, aqui, escrevendo essas linhas numa tarde banhada pelo Sol, consigo perceber com maior nitidez que tudo pelo que passei, as trevas mais profundas causadas pelo isolamento e pelo desespero, foram ladrilhos necessários para que meu caminho ficasse ainda mais belo.

            Ainda hoje ainda ouço minha mãe nas nossas caminhadas noturnas me alertando que os detalhes também são essenciais. Que nossos objetivos são construídos pelo esforço constante e consciente…

            “Na ponta do nariz”

André Naves

Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos, Inclusão Social e Economia Política. Escritor e Comendador Cultural. Conselheiro do grupo Chaverim. Embaixador do Instituto FEFIG. Amigo da Turma do Jiló. Membro do comitê de inclusão do LIDE.

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