Oriente

Oriente

            Os reis magos, sábios, vieram do Oriente. Dizem que eram astrólogos… Enxergavam o saber das estrelas… Elas indicavam os caminhos que eles deveriam trilhar. Existe um certo preconceito com a astrologia que eu nunca entendi… Vou ser bem sincero!

É muito rei na barriga, penso eu com meus botões, achar que um Universo tão enorme não influencia em nada a vida da gente… Nadinha? Se ele também é parcela da criação, será que não tem nada a ver com nossos passos?

Uma tradição milenar pode ser jogada na lata do lixo? Tradição não é colocar tudo no formol: o tradicional não é intacto! Esse é o valor! As coisas vão se aprimorando, melhorando, mas nunca perdem sua essência.

É um diamante que se mantém no tempo: a gente vai limpando, iluminando, trocando de lugar… Mas ele tá sempre lá, ensinando que tem muito mais coisa valiosa entre o céu e a terra do que a gente imagina…

Ninguém é o último biscoito do pacote.

Será que tem gente pensando que Humanidade não escuta a poesia das estrelas e segue só?

Aliás, no museu Grão-Vasco lá em Viseu tem uma pintura do Vasco Fernandes e do Francisco Henriques que representa um dos reis magos e sábios como um índio brasileiro… É um de um lirismo danado! No fim, o quadro mostra, pra quem tem olhos de ver, que a gente também aprende um pouquinho com cada diferença… Com cada pessoa!

Pessoas e Estrelas! Esse é o caminho!

E quando as pessoas são as estrelas?

Sempre achei os tios meio que estelares… Eles sempre estão lá para trazer luzes aos nossos passos, antes perdidos e agora escolhidos, rumo ao Oriente… Orientar… E quem falou em laços de sangue?

Claro que os tios são membros da família, mas o que faz dele especiais é o que trazem: os afetos que nos afetam enquanto persistimos caminhando. Esse vínculo da ternura vale mais do que o DNA…

Ácido Desoxirribonucleico! Prefiro exemplo, sorriso! Sou mais a doçura do carinho e do afeto, que qualquer acidez. Enquanto o sangue aprisiona, a benquerença liberta!

Tios são estrelas! Brilham, orientam, iluminam, indicam. Mas mais do que isso: eles nunca se limitam ao cercadinho da matéria.

Ontem tive uma notícia de alguma maneira desconcertante… Um tio meu, viajou para as estrelas. Foi ser um canto de sabiá sideral. Num primeiro momento, parecia que aquela foto, tirada quando meu pai e todos seus irmãos ainda tinham cores e nitidez, estava se amarelando… Se apagando…

Tia Mara… Meu pai… Tio Marcelo… Tia Julinha… Agora, tio Fernando… Todos eles foram caminhar com estrelas, numa eternidade poética e sublime. Estão no reino das saudades, das memórias e da inspiração!

Só o tio João, ainda jovem, caminha, com sua bengala elegante, entre nós!

É um sabor agridoce. O retrato amarela, mas a lembrança devolve cores e nitidez às imagens que pareciam perdidas… E cada vez que um trocadilho, uma piada, uma graça, me vem à mente, eles voltam fortes e vigorosos!

Enquanto o sangue seca e é varrido, o amor se fortalece na eternidade… Alumbramento!

André Naves

Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos, Inclusão Social e Economia Política. Escritor e Comendador Cultural.

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