O Ouro do Cinza

O Ouro do Cinza

Hoje amanheceu do jeito que mais me apetece. Sabe o céu cor de chumbo, o friozinho gostoso? Pois é, hoje era um desses. E eu, particularmente, gosto muito. Tem gente que só vê beleza no céu azul de brigadeiro, no calor do mergulho. E não tiro a razão, são lindos mesmo. Mas o cinza tem seu valor.

Eu tava caminhando como de costume, e os pensamentos avoavam. A cabeça, às vezes, parece uma mossoroca que a gente só desembaraça andando. Decidi dar uma pausa, sentei num banco ali perto da Alameda dos Campeões, no nosso Palmeiras.

O ar geladinho no rosto…

E fiquei pensando justamente nisso: como o frio e o dia nublado têm um outro tipo de beleza. É um chamado pra dentro. A gente se encolhe um pouco, busca o calor, e nesse movimento, acaba se voltando mais pra si. É como se o mundo externo menos colorido saísse de cena pra gente explorar o universo do “eu”.

Os dias assim são um convite, quase uma convocatória, pro aconchego do lar, sabe? Aquela vontade de um café quente, um bom livro, a família reunida em volta da mesa, com as conversas e risadas que aquecem mais que qualquer lareira.

E o que a gente tem dentro? Qual nosso ouro da alma? É o desejo de, cada um à sua maneira, tenta doar o melhor de si pra construção do todo, pra essa teia social que a gente forma. É um esforço, às vezes consciente, às vezes nem tanto, mas tá lá.

E aí a coisa fica ainda mais bonita, porque parece que o Criador, na sua sabedoria infinita, já deixou as instruções bem claras dentro da gente, marcadas na nossa consciência, pra gente construir a morada d’Ele aqui na Terra.

Não é um manual complicado, não. A receita é simples, no fundo: basta que cada um de nós, sabendo direitinho das suas forças e também das suas fraquezas, dê a mão pro outro. Simples assim. Onde eu sou forte, ajudo quem é fraco naquilo. E onde eu sou fraco, tem sempre alguém com a força que me falta. É uma dança, um encaixe perfeito.

Quando a gente permite que cada pessoa brilhe no que tem de melhor, que desenvolva seus talentos e siga seus desejos mais genuínos, a coisa flui. E o mais incrível é pensar que essas instruções divinas parecem estar gravadas até no nosso DNA…

Lá vou eu com minhas curiosidades do Almanaque Abril… 

Aquela sequência, 10-5-6-5, espelha o Nome Sagrado em hebraico – Yud (10), Hay (5), Vav (6), Hay (5).

É como se D’us tivesse deixado uma assinatura em cada célula nossa, um lembrete constante de que fomos feitos para a conexão, para a unidade na diversidade. Essa “assinatura” mostra que o chamado é universal. Todos nós, sem exceção, fomos convidados a participar dessa grande obra: construir uma sociedade sem barreiras, onde cada um possa ser quem é, contribuir com seu dom, criar junto.

Um lugar onde o “Iachad”, a unidade, seja a regra.

Só que aí entra o mistério da escolha, né?

O chamado ecoa pra todos, a instrução tá lá, impressa na alma e no corpo. Mas nem todo mundo decide ouvir, nem todo mundo escolhe seguir o mapa. É aquela velha história: “muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos” – ou melhor, poucos os que se decidem, que se apresentam como escolhidos para essa empreitada de construir a morada Divina aqui mesmo, no nosso dia a dia.

Fiquei ali mais um tempo, o vento frio soprando de leve, o céu ainda cinzento. E apesar da aparente melancolia do dia, senti uma Esperança quentinha no peito.

Porque mesmo que nem todos atendam ao chamado agora, a instrução continua lá, esperando. E cada gesto de união, cada mão estendida, cada “ouro da alma” compartilhado, é um tijolinho a mais nessa construção.

E isso é boniteza demais da conta!

André Naves

Defensor Público Federal. Especialista em Direitos Humanos e Sociais, Inclusão Social – FDUSP. Mestre em Economia Política – PUC/SP. Cientista Político – Hillsdale College. Doutor em Economia – Princeton University. Comendador Cultural. Escritor e Professor.

Conselheiro do Chaverim. Embaixador do Instituto FEFIG. Amigo da Turma do Jiló.

www.andrenaves.com

Instagram: @andrenaves.def

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