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O Congresso Nacional Ainda Pertence ao Povo? O aumento de deputados e a urgência do Voto Distrital

Na calada dos gabinetes, longe dos olhos e do sentir da nação, o Congresso Nacional acaba de cravar mais uma adaga no coração já combalido da nossa democracia representativa. A aprovação do aumento do número de deputados federais de 513 para 531 não é um mero ajuste técnico; é a crônica de um distanciamento anunciado, um passo deliberado para afastar o poder ainda mais de seu titular de direito: o povo.

Esta medida, que aprofunda uma ferida antiga, nasce como uma reação insidiosa a uma decisão do Supremo Tribunal Federal que, pela primeira vez, ousou aplicar o preceito constitucional da proporcionalidade. O que deveria ser um ato de justiça — ajustar o número de deputados à população de cada estado — foi torcido e transformado em seu oposto. O resultado? O que já era ruim, ficou tragicamente pior.

A raiz dessa distorção é amarga e remonta a um tempo de sombras. O entulho autoritário do Pacote de Abril de 1977, criado para manipular a representação popular durante a ditadura, nunca foi devidamente removido. Seus alicerces tortos foram, infelizmente, cimentados na Constituição de 1988. A matemática da injustiça é clara e ofende a inteligência do cidadão: o estado de São Paulo, por exemplo, que abriga cerca de 22% dos brasileiros, tinha direito a apenas 13,6% das cadeiras na Câmara. Com a nova “solução”, esse número cairá para 13,1%. Em outras palavras, o voto de um cidadão em um estado continua, por lei, a valer menos que o de outro.

Essa desconexão numérica gera uma desconexão humana. Quando um parlamentar não deve satisfação direta a um eleitorado definido, quando seu nome se perde em uma lista infindável e sua campanha vagueia por um estado inteiro, para quem ele realmente governa? O grito das periferias, a necessidade do pequeno agricultor, a luta da pessoa com deficiência por acessibilidade e dignidade… tudo isso se torna um ruído distante, facilmente abafado pelo barulho dos interesses poderosos que financiam mandatos sem rosto e sem compromisso local.

É preciso ter a coragem de dizer o óbvio: o modelo atual faliu. E a solução não está em remendos que só alargam o rasgo no tecido social. A esperança reside em uma mudança estrutural, em uma ideia simples e poderosa: o voto distrital.

Imaginemos o Brasil dividido em distritos eleitorais com populações equivalentes. Em cada distrito, um único deputado seria eleito pelo voto majoritário. De repente, a política deixaria de ser um jogo abstrato de siglas e cores para se tornar uma realidade palpável, com nome e endereço. O eleitor saberia exatamente quem é o “seu” deputado. Seria como na vida da gente, onde cada um conhece o vizinho; sabe a quem pedir ajuda e, principalmente, a quem cobrar uma promessa não cumprida. A prestação de contas seria imediata, direta, pessoal.

Há quem tema, com uma lógica que não se sustenta, que o voto distrital apagaria as minorias do mapa político. Nada mais falso. É o sistema atual, opaco e distante, que as invisibiliza. Quando o poder de pressão do cidadão é real e focado, a cidadania ativa floresce. A comunidade, organizada, forçaria seu representante a lutar por políticas públicas de saúde, educação e inclusão que atendam às necessidades locais de todos, sem exceção. A verdadeira força das minorias não está em serem um nicho num sistema falho, mas em serem parte de uma cidadania fortalecida e vigilante.

O voto distrital não é uma panaceia, mas é uma ferramenta institucional indispensável. É a plaina que pode começar a acertar a madeira torta da nossa representatividade. É o caminho para edificar estruturas sociais verdadeiramente mais Democráticas, Inclusivas e Justas, onde o Congresso Nacional deixe de ser um clube fechado e volte a ser a casa do povo.

Essa decisão é um sintoma grave da doença. Mas em vez de nos abatermos, devemos encará-la como um chamado. Um chamado para pensarmos além do óbvio, para reacendermos a chama da esperança e para lutarmos por uma reforma que devolva, enfim, o poder a quem ele pertence. É hora de semear o futuro. É hora de devolver o Congresso ao seu verdadeiro dono: o povo brasileiro.

André Naves

Defensor Público Federal. Especialista em Direitos Humanos e Sociais, Inclusão Social – FDUSP. Mestre em Economia Política – PUC/SP. Cientista Político – Hillsdale College. Doutor em Economia – Princeton University. Comendador Cultural. Escritor e Professor.

Conselheiro do Chaverim. Embaixador do Instituto FEFIG. Amigo da Turma do Jiló.

www.andrenaves.com

Instagram: @andrenaves.def

A Brasilidade Está Aqui!

Eu sou muito fã das crônicas da Becky Korich, tiete declarado e sem vergonha mesmo. É uma das melhores cronistas dessa safra. Eu sempre corro para abrir os links e me deliciar com a leitura. A última dela falava que “Quando a Vai-Vai for para a avenida, eu vou-vou para o meu canto…”.

Ela soube pintar muito bem o meu sentimento: eu adoro a anarquia criativa carnavalesca com toda a pulsão criativa que nasce do caos festivo, mas prefiro ficar em ambientes mais calmos, mas igualmente artísticos. É bom para a minha criatividade, para as minhas emoções…

Entender as próprias limitações é importante para a minha sanidade mental, e essa lição tão legal parece que a Becky descreveu… Foi tão legal que deu até aquela invejinha boa: era o que eu sempre quis escrever, mas me faltavam palavras, sonhos e criatividade!

Vou resumir toda essa ensaboada que dei: adoro o Carnaval, mas prefiro acompanhar os bloquinhos e desfiles de lugares mais sossegados… Parece um adubo que enche meu sorriso de Esperanças e me prepara para a grande safra literária do resto do ano.

Talvez seja esse o significado de “o ano só começa depois do Carnaval!”… O Brasil tem o ano-novo civil, mas também tem o cultural: o carnaval é o marco desse fim/início tão nosso… A partir da quarta de cinzas, um novo ano, novinho em folha, se abre pra gente! Possibilidades, sonhos, vida que segue até o próximo!

Entre uma folia na sala e outra, corremos para a Sala São Paulo. Fomos assistir um espetáculo de dança com a Cia. Déborah Colker, coberta com a melhor musicalidade da OSESP. O Marcelo Lopes me explicou que a Déborah passou os últimos anos viajando o Brasil todo e descobrindo sons, cores, instrumentos e experiências! Fez uma misturança com a música russa modernista de Stravinsky, e projetou o espetáculo.

No vinho de depois, encontrei um casal de amigos, a Fabi e o Rodolfo, e a gente, ainda impactado, nem teve tantas palavras sobre isso. Acho que a emoção fala além das palavras da razão… Quando a gente tenta achar sentido em algumas coisas, a essência delas acaba se perdendo. A reflexão é a base sólida sobre a qual se constroem novas ideias…

Saindo de lá continuamos nossa jornada onírica, onde os sonhos e a criatividade se misturam: fomos para a pizzaria mais lírica de São Paulo – é lá que os sabores são os versos poéticos das construções pizzaiolas! Pizza antropofágica que se faz a partir da nossa realidade. É como a melhor Arte: ela cresce a partir da Brasilidade. O mais legal de lá é que é uma experiência coletiva.

A pizzaria toda acaba conversando junta… O Giovanni chegou de algum bloquinho, e já estava explicando as vantagens sociais da filantropia. Arte é coletividade humana: As melhores criações nascem daí, já dizia o Luis! A Alice, preferindo ouvir, parecia saber que o silêncio é a moldura poética da genialidade. Rubem Braga deve a ter conhecido quando falava da “escutatória”… Nessas conversas passamos, ainda mais, a mergulhar no mundo do Oscar. Ainda Estou Aqui! Que filme! Que livro! E, papo vai, papo vem, voltamos para nossas raízes…

No dia seguinte, tínhamos um encontro marcado com a Maria Augusta lá, mas é como dizem, né? “Quando o Criador ouve nossos planos, Ele ri!”…

A Deborah Colker usou bambus no espetáculo dela. Acho que também para simbolizar isso: flexibilidade e adaptabilidade. Acabamos indo jantar com outro casal de queridíssimos amigos, a Vera e o Piva. Política, Segurança e Artes dominaram a flora de nosso diálogo. Claro que desembocamos no Oscar.

No fim as Artes são o melhor ferramental espiritual para que se crie Pertencimento, Sensibilidade e Compreensão! Ela permite que a gente entenda as delícias e as contradições da nossa existência. Sempre que a nossa gente brasileira se destaca, ela bebe das fontes artístico-culturais que são nascidas no povo. É como se fôssemos sensíveis artistas, e isso é o nosso maior trunfo criativo.

Ainda Estou Aqui representa isso muito bem: apesar das dores da tragédia que Eunice e os Paiva enfrentaram, eles continuaram caminhando, buscando na sensibilidade coletiva e popular o combustível para continuar.

É aí que a brasilidade, que floresce desde a defesa de nossos povos originários, se funde à Humanidade. Acho que o Oscar do Ainda Estou Aqui é mais um verso nessa poesia do povo, tão tristonha mas tão bonita.

Sabe quem foi a primeira pessoa que me parabenizou pelo Oscar?

Minha única relação com o filme é que sou brasileiro e não desisto nunca: eu também ainda estou aqui!

Mas então, a primeira pessoa que me deu os parabéns foi uma grande amiga chilena, a Coty. E como eu falei para ela: a Brasilidade só existe por conta da Latinidade – esse prêmio é de todos nós! É da América Latina! É do Extremo-Ocidente! É do Sul Global!

É da Humanidade!

A Arte só se produz na Coletividade Popular!

André Naves
Defensor Público Federal. Especialista em Direitos Humanos e Sociais, Inclusão Social – FDUSP. Mestre em Economia Política – PUC/SP. Cientista Político – Hillsdale College. Doutor em Economia – Princeton University.  Comendador Cultural. Escritor e Professor.

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O Nome: Moisés

            Moisés era O Nome! É!

            Era no tempo das calças curtas, quando as lembranças ganham o manto amarelado da névoa de ouro. Eu mal tinha saído da casca do ovo… Acho que fraldas ainda me acompanhavam.

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Desigualdade Social: a maior barreira!

Em uma pesquisa recente publicada no jornal “O Globo” de domingo, 25 de junho de 2023, foram revelados dados alarmantes sobre as vítimas da violência social. Amputados fisicamente e traumatizados emocionalmente, essas pessoas enfrentam um grave problema causado pela presença precária do Estado, potencializado pela desigualdade social e pela pobreza. A ausência estatal se mostra como a raiz de diversas estruturas sociais excludentes, que se tornam as principais barreiras a serem superadas e equalizadas pelo trabalho social.

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