A Rosa Resistirá!
Badalavam 20 horas quando a Orquestra do Theatro São Pedro, sob regência do maestro Neil Thomson, iniciou a Temporada 2018, com o Prelúdio da Ópera O Franco-Atirador, de Carl Maria von Weber. Os primeiros 15 segundos da apresentação foram metaforicamente perfeitos: o nervosismo, daqueles sob a mira de um franco-atirador determinado a cortar ainda mais o orçamento do corpo artístico, foi refletido na musicalidade trepidante.
Os musicistas, antes parecendo tensos por uma permanente ameaça, tornaram-se leves após esse breve ímpeto, que, como pássaro selvagem, voou para longe! A Cultura, integrante e complementar da Educação, percebeu-se como a mola da produtividade econômica – somente os míopes pela mercantilização das relações humanas não observam o potencial lucrativo mediato da Cultura.
Com essa certeza, ciente que carregava a essência do Progresso Social, a ORTHESP, a partir do décimo sexto segundo, transformou-se em rosa plena. Uma flor nascida do concreto paulistano que, confiante, impôs-se, com amor e beleza, àquele que antes a ameaçava: tendo consciência de representar o cerne do desenvolvimento e da Justiça Social. Sua musicalidade banhou-nos de chuva inebriante – lágrimas e aplausos à Rosa que vencera o franco-atirador.
E as cores vibrantes fizeram-se também presentes quando, com a Sinfonia 1 de Prokofiev, suas pétalas desabrocharam. Já era rosa única, madura, especial, consciente de seus movimentos e de sua qualidade. A festa retumbou com sons fluidos e neoclássicos. Cada acorde era um Soneto de Camões em perfeição e estilo.
A melodia exalou perfume, quando Luciana Bueno e Paulo Mandarino encantaram-nos sob a luz virtuosa de Carmen e Don José. No conto de Mérimée, adaptado para os palcos operísticos por Bizet, uma cigana zomba da morte em favor de sua ínsita Liberdade, levando o círculo narrativo ao clímax: ela sabia que sem sua Liberdade, morreria – a Sociedade brasileira sabe que, sem as belas florescências da Arte e da Cultura, perecerá!
Ainda que nuvens cinza-plúmbeas ameacem a beleza com trovões asfálticos e mortais, a ORTHESP, impávida, sublime e alegre, vencerá.
A Rosa Resistirá!
Andre Naves
Defensor Público Federal, especialista em Seguridade Social (especialmente Previdência e Assistência), Inclusão e Direitos Humanos, ex Chefe da Defensoria Pública da União em São Paulo. Colunista-Especialista do Instituto Millenium e na RT360 – Revista Tecnologia 360. Law & Economics Lecturer. Comendador Cultural.