A necessidade da equalização das assimetrias sociais

A necessidade da equalização das assimetrias sociais

Um dos pilares que sustentam o desenvolvimento econômico e social é a vida dos indivíduos em sociedade. É dizer, portanto, que o liame social é inerente à individualidade, e que só com esse vínculo social é possível a superação dos obstáculos à plena vida humana. 

Esse fato pode ser percebido ao se analisar o exemplo clássico trazido por Adam Smith: “Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro e do padeiro que esperamos o nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelos próprios interesses. Apelamos não à humanidade, mas ao amor-próprio, e nunca falamos de nossas necessidades, mas das vantagens que eles podem obter.”

Ora, ao mesmo tempo em que se apela para o “amor-próprio” (“egoísmo”, em algumas traduções) como motor da prosperidade, reconhece-se, ainda que implicitamente, a necessidade da existência comunitária para que cada ser humano possa prosperar. 

Ou seja, o “açougueiro” pressupõe a existência de um “padeiro”, de um “cervejeiro” e de todos aqueles que “jantam” para que consiga desenvolver, de maneira mais eficiente, seus trabalhos. O mesmo raciocínio que decorre do exemplo citado pode ser extrapolado por todos os integrantes da sociedade. Em suma: integra, como elemento essencial à individualidade, o vínculo social.

É dizer que não há indivíduos sem sociedade, nem sociedade sem indivíduos.

Nesse sentido, o egoísmo representa uma patologia da individualidade em que ela está castrada de seus liames sociais. Em um agregado de indivíduos acometidos pela doença do egoísmo, há um fenecimento do tecido social e uma impossibilidade de prosperidade sustentada. Ora, fica claro que extirpados os integrantes desse agregado de uma parte essencial de sua individualidade (os laços coletivos e sociais, a saber), o desenvolvimento individual e social passa a se dar em bases cada vez menos intensas e eficientes.

É necessário ao progresso amplo e sustentado que cada pessoa desenvolva suas capacidades para que consiga cooperar com a construção, sadia e contínua, da sociedade. Entretanto, quando bloqueamos a possibilidade de cada indivíduo de buscar suas realizações, estamos condenando a sociedade a baixas e insustentáveis taxas de crescimento.

A existência de desigualdades sociais injustificadas, dessa maneira, funciona como amplificadora das barreiras existentes à sustentabilidade do progresso social. Isso se dá pelo motivo de que os membros de um agregado humano, tamanhas são as desigualdades, não se percebem como membros de um mesmo conjunto, em busca de objetivos similares e convergentes.

De maneira perniciosa, a exacerbação das desigualdades injustificadas coloca o embate e o conflito nos lugares que deveriam ser ocupados pela cooperação e pela colaboração. Ao contrário, num cenário conflituoso, grupos se digladiam por toda a sorte de benesses e privilégios. Esse contexto de embate, de conflito, em que cada agrupamento guerreia pela predação de maiores recursos, redunda em violência institucional, com a construção de estruturas cada vez mais exclusivas, e violência social, com toda sua gama de externalidades negativas.

Ou seja, as irrazoáveis desigualdades constituem barreiras ao desenvolvimento social na medida em que fortalecem estruturas e instituições excludentes, ambientalmente desastrosas, socialmente desagregadoras e governativamente opacas. 

A sustentabilidade do desenvolvimento econômico e social, que se assenta na coluna “ESG”, não se faz sem a equalização das desigualdades, para que todos os indivíduos possam colaborar, de acordo com seus próprios interesses, com a construção social.

A Individualidade “ESG” pressupõe a Sociabilidade! 

ANDRÉ NAVES

Especialista em Direitos Humanos e Sociais.
Defensor Público Federal. Escritor, Palestrante e Professor. Conselheiro do Chaverim, grupo de assistência às pessoas com Deficiência. Comendador Cultural.
Colunista do Instituto Millenium, além de diversos outros meios de comunicação. www.andrenaves.com