A Boa Comunicação e a Escuta Atenta: Um Exercício De Alteridade
O fundamento da boa comunicação não reside apenas na habilidade de transmitir informações de forma clara, mas, principalmente, na capacidade de escutar o outro. E escutar, é fundamental destacar, vai muito além de simplesmente ouvir sons. Trata-se de perceber as características, potencialidades, demandas e preferências de cada indivíduo. Nesse sentido, a escuta se assemelha ao ato de enxergar: não está restrita às capacidades físicas, mas à atenção genuína que damos uns aos outros.
A verdadeira escuta é um ato de atenção e empatia. Ela exige que se compreenda a individualidade alheia, criando condições para um diálogo que não apenas troca informações, mas que constrói significados em conjunto. Sob essa perspectiva, é imprescindível reconhecer que surdos e cegos também podem, e devem, escutar e enxergar. Para eles, assim como para todos nós, a atenção à individualidade alheia é o que possibilita a comunicação eficaz e a criação de mensagens, práticas e posturas que reflitam as necessidades e as aspirações coletivas.
Nesse sentido, a boa comunicação é essencialmente coletiva. Ela só se realiza plenamente quando o interlocutor assume um papel de protagonismo, à medida que sua individualidade é levada em conta. As palavras e as posturas só alcançam eficácia quando enraizadas na diversidade. Assim, qualquer estratégia comunicativa que se pretenda bem-sucedida não pode ser formulada em torres de marfim, onde predominam os iguais e onde as diferenças são ignoradas.
A inclusão é um elemento essencial para a comunicação efetiva. Só quem pensa diferente pode enriquecer nossas ideias, expandindo horizontes e conferindo complexidade aos nossos argumentos. A criatividade e a inovação florescem em ambientes verdadeiramente inclusivos, onde a diversidade não é apenas aparente, mas também conceitual. Ideias diferentes e plurais formam a base para soluções criativas, que são imprescindíveis à boa comunicação.
Dessa forma, a construção de mensagens criativas deve colocar o destinatário no centro da importância. Isso significa reconhecer que, para comunicar bem, é preciso estar atento às necessidades da população, ouvindo-a de maneira ativa e buscando construir com ela um discurso que seja realmente inclusivo. Não adianta, diante de falhas comunicativas, atribuir a culpa ao outro: “o mercado sabotou as mensagens”, “a população não entendeu nossa política”, “o povo está errado”, “o Congresso espalha fake news”. Essas justificativas só reforçam a desconexão entre os emissores da mensagem e seus destinatários.
Uma boa comunicação é fruto de uma construção conjunta, pautada na diversidade e na pluralidade. Escutar o outro é a chave para compreender suas necessidades e, com isso, criar mensagens que realmente ressoem. Quando nos dispomos a prestar atenção à individualidade alheia, somos capazes de construir pontes e fomentar um diálogo que valorize a coletividade e que promova soluções inovadoras para os desafios que enfrentamos. Por isso, a boa comunicação exige, antes de tudo, disciplina, perseverança e, sobretudo, alteridade.
André Naves – Defensor Público Federal formado em Direito pela USP. Especialista em Direitos Humanos e Sociais, Inclusão Social e Mestre em Economia Política pela PUC/SP. Cientista Político pela Hillsdale College. Doutor em Economia pela Princeton University. Comendador Cultural. Escritor e Professor.
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