Vovó Telê

Vovó Telê

            Prestidigitação… Ilusionismo… Sabe o mágico de circo? Enquanto todo mundo tá lá vidrado na minissaia da ajudante, ele vai lá e pimba! Tira o coelho da cartola. A gente sempre fica com uma pulga atrás da orelha tentando descobrir o truque…

            SEMPRE!

            A diversão do ilusionismo é essa! Tentar desvendar, descobrir. Apareceu até um tal de Mister M., mas quem garante que ele também não iludia todo mundo? Será que existe só um caminho para realizar o truque?

Mágicos… O show não pode parar!

Aqui na literatura também dá para fazer uns jogos legais. Quer ver?

Se eu falar de um compositor chamado Mozart, o que você vai pensar? Áustria? Viena? Salzburg? Nobreza? Talvez até naquele licorzinho de chocolate… E no tempo em que você está nessa viagem gostosa pelo mundo da imaginação, eu falo que o Mozart a que eu me referia era Mozart Camargo Guarnieri.

O que você ia pensar? Fazer?

Foi um dos maiores compositores do Brasil! Sabia que ele nasceu em Tietê, era filho de um flautista italiano que fugiu para cá das perseguições odiosas do fascismo?

Ganhamos nós. Perderam eles.

Mas Tietê também é o berço de outro filho de imigrantes, que foi até presidente daqui! Michel Temer! E agora, o coelho da cartola: o pai de Mozart Camargo Guarnieri era o Michelle Guarnieri!

Mozart e Michel: a dupla de Tietê!

Peter Shaffer também fez das suas ilusões no cinema. Quando escreveu o “Amadeus”, tirou algumas licenças poéticas e solidificou em ódio e rivalidade uma inveja nunca confirmada… Salieri e Mozart, ao que consta, eram grandes amigos… Mas, vai saber…

Hoje em dia a gente tá sendo tomado pela tragédia ambiental do Rio Grande do Sul. Enchentes, dramas, mortes… Situação de guerra! De calamidade. E o pior? A gente fica sabendo de uns monstros que se aproveitam do horror para roubar, desviar, fraudar, corromper, e, até, politizar!

Quando, no circo, o mágico ilude a plateia, ele busca a diversão, o sorriso e a alegria do público. Numa situação calamitosa como a que estamos vivendo, quem prestidigita e frauda é criminoso!

A gente não pode cair nessa armadilha de achar que só tem crápula no mundo. Pelo contrário! Para cada canalha, temos centenas de pessoas boas que estão trabalhando, doando, rezando, para amenizar a situação e reconstruir os Pampas…

Amigos anônimos… Parentes desconhecidos! Quem disse que precisa ter o mesmo sangue para ser da família? Sabia que eu já sofri um acidente muito severo? É… Foram mais de 45 dias em coma, fora todo o resto… Mas isso é outra história….

Lá em Jacareí meu pai tinha um grande amigo. Eles eram tão unidos, mas tão unidos, que logo minha mãe também construiu grande amizade com a esposa dele. Aliás, nossas famílias estavam sempre juntas. Eu era, e ainda sou, oras, muito amigo dos filhos deles. Sinto-os como irmãos! Até hoje, quando nos encontramos, chamo ele de tio e ela de tia!

A mãe do meu tio é minha avó, ainda que nossos laços da carne sejam distantes! Vovó Telê! Assim que eu a chamava… Durante o período mais crítico da minha recuperação, ela me levava, todos os dias sem falta, a melhor geleia de mocotó que só ela sabia preparar!

Ela foi fundamental para que eu chegasse até aqui! Tanta gente foi… Família que eu sei o nome, parentes desconhecidos…

Somos um país de fibra, trabalho e gentileza! Cada calhorda aproveitador que aparece esconde as milhares de Vovós Telês anônimas…

Vamos fugir dessa maligna ilusão?

André Naves

Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos, Inclusão Social e Economia Política. Escritor e Comendador Cultural. Conselheiro do grupo Chaverim. Embaixador do Instituto FEFIG. Amigo da Turma do Jiló. Membro do comitê de inclusão do LIDE.

2 Comments on "Vovó Telê"

    Nossa, fiquei super emocionada com a lembrança e o carinho! Minha mãe era fantástica e sua geleia também (a geleia eu faço até hoje)!

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