Preconceito atrapalha o aprendizado
Desconsiderando um direito previsto pela Constituição, e também os aproximadamente 45 milhões de brasileiros com alguma deficiência, segundo dados do IBGE, o Ministro da Educação, Milton Ribeiro, declarou que crianças deficientes “atrapalhavam” o aprendizado de outras crianças.
Antes de mais nada, é preciso destacar que a educação, principalmente a educação na primeira infância, é aquela que deve criar as bases para que o cidadão, logo em seus primeiros anos de vida, aprenda a aprender. Não só o conteúdo formal, mas a tolerância, o respeito, a adaptabilidade.
E como isso é possível? Colocando crianças em contato umas com as outras, e utilizando a escola, a educação como meio de fazer com que todas essas crianças plurais, desenvolvam suas individualidades, ao passo que respeitam e convivem com as diferenças.
O mundo está passando pela 4ª revolução industrial, a chamada indústria 4.0, e para que o Brasil consiga se colocar competitivamente no mercado de inovação e empreendedorismo, a inclusão social é impreterível.
Outra tendência mundial é o ESG (Environmental, Social and Governance), que se refere justamente a integração de valores econômicos, com valores sociais, ambientais e governança corporativa.
O “S” presente na sigla não está ali à toa, mas sim para nos lembrar que todos devem estar incluídos em políticas de desenvolvimento. Não há mais espaço para ideias segregacionistas, e a escola inclusiva é o berço da autoestima social, das ideias inovadoras e, portanto, da sociedade democrática.
Excluir um grupo por suas diferenças é um atraso social, educacional e econômico. Como seria a taxa de evasão escolar, se pessoas com deficiência forem obrigadas a estudar em escolas exclusivas, especialmente em cidades pequenas ou pobres, em que a estrutura educacional já é precária? Quantas pessoas perderiam a chance de se tornar independentes e produtivas?
Crianças não atrapalham outras crianças, elas aprendem umas com as outras. Crianças não são excludentes, a menos que vivam em uma sociedade que exclui. O que atrapalha o aprendizado de crianças não é a deficiência de outras crianças, mas sim o preconceito e falta de responsabilidade de alguns adultos.
ANDRÉ NAVES
Defensor Público Federal, ex-Chefe da Defensoria Pública da União em São Paulo. Conselheiro do Chaverim, grupo de assistência às pessoas com Deficiência. Comendador Cultural. Escritor e colunista do Instituto Millenium, da Revista de Tecnologia 360, além de diversos outros meios de comunicação. www.andrenaves.com