Le Chaim

Le Chaim

            Sucesso como sempre! Aplausos!

Daniel Baremboim, o encantador dos pianos, tinha feito mais uma de suas mágicas! Tocar o “Rach 3” não é pra qualquer um… Ainda mais com tanta emoção, esperança…

Sabe quando a gente ouve até a poesia do piano? Parece até que ele está conversando, falando… “Shalom”…

Relaxados, após a magistral execução do Concerto para Piano 3 de Rachmaninoff, os músicos da Filarmônica de Israel se reuniram para o tradicional coquetel festivo, lá mesmo, na sede do Hichal Hatarbot, em Tel Aviv.

            Entre cumprimentos e gargalhadas, sempre com seu charuto na mão, Daniel esbarrou no seu grande amigo, o maestro Zubin Metha! Que abraço gostoso! É o poder da música, das artes… Paz, Sorrisos e Esperança!

            “Dany´Le! Hoje você estava tocando com o sangue! Sabe como seus vizinhos falam? Com sangue nos olhos! Assim! Força! Foi lindo, arrepiante, emocionante. Me lembrou até uma historinha…”

            “Diga, por favor, Senhor Maestro Zuby´Le…”

            “Pra quem é argentino, você está muito alemãozinho… Hahahaha!”

            “Eu já saí de lá há tanto tempo, mas acho que o espírito nunca saiu de mim… Hahahaha!”

            “Sabe como dizem, né? A gente tem de morar na Itália, mas não pode amolecer demais. A gente tem de morar na Alemanha mas não pode endurecer demais… Pelo que você tocou hoje, a milonga ainda mora no seu coração!”

            “América Latina! Sabia que o maior poeta brasileiro é o Poetinha? A maior voz brasileira, um timbre dos anjos, é a do Bituca? O restinho do cigarro que a gente até joga fora! Talvez a informalidade de lá seja uma forma de carinho e respeito… Talvez um certo chutzpah que ainda não aflorou. Se somos todos iguais, qual razão para deferência? Mas qual a história, Zuby´Le?”

            “Hahaha! Contam que logo depois da estreia, com muito sucesso, diga-se, da ópera ´Axur, re d´Ormus´, Salieri e Mozart se encontraram para um brinde fraternal, como eles sempre faziam após as noites de gala.

            Eles tomavam um vinho bem parecido com esse. Um rubi líquido… Olhe bem! Mozart dizia preferir os brancos, que lembram o Sol e o Ouro. Salieri era italiano, né? Gostava dos tintos… Potentes, apaixonados, vermelhos…

            No olfato, eles sentiam desde o perfume da mulher amada até os tons terrosos das trufas negras… Sabe a beleza do vinho? Lembra da ´Dança dos sete véus´ de ´Salomé´? Cada vez que a gente olha, respira, prova, é uma descoberta nova. Um véu que cai, mostrando e escondendo um tesouro…

            Daí eles provaram… Até pareciam agulhinhas picando a língua. Uma sensação deliciosa de boca seca, em meio à abundância líquida… Imagine comer uma banana verde…

            E os sabores, então? Alcaçuz, rosas, morango… Era uma explosão! No segundo gole, um novo véu se descortinava, uma nova cortina se abria: tâmaras, framboesas, nozes…

            Vinho é isso! É exploração! É descoberta! É mistério! É delícia! Viu como quase todos os sentidos são protagonistas quando a gente vai beber? Visão, olfato, paladar e tato…

            Mas o mais nobre dos sentidos acabou ficando de fora… A audição molda o pensamento que cria a ação! Ela é a semente da emoção! Por isso que a gente é músico… O espírito canta sempre que sente o som!

            Por isso Salieri convidou Mozart a bater, com leveza e graça, os copos… Para ouvir… ´Piiiiiii….´. Sempre que a gente ouve isso a gente sabe que o brinde está completo. Nossa esperança renasce com força e vigor!

            Não é esperar! É semear, é cuidar, é trabalhar! Com isso, o futuro melhor chega… Os reféns voltarão pra casa! As águas baixarão! A destruição será reconstruída! O amanhã é a esperança! O brinde é a ESPERANÇA!”

            Le Chaim!

André Naves

Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos, Inclusão Social e Economia Política. Escritor e Comendador Cultural. Conselheiro do grupo Chaverim. Embaixador do Instituto FEFIG. Amigo da Turma do Jiló. Membro do comitê de inclusão do LIDE.

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