A Paz é intrínseca ao “ESG”

A Paz é intrínseca ao “ESG”

O conceito de Paz, essencial a quaisquer iniciativas que se queiram qualificadas como respeitantes ao pilar “ESG”, não pode ser aquele negativo, que diz respeito, tão somente, à ausência do estado de guerra ou de conflito. A Paz almejada enquanto intrínseca ao florescimento dos referidos empreendimentos é aquela positiva. Vale dizer que além de representar a ausência de conflitos injustificados, ela também diz respeito ao franqueamento de condições e iguais oportunidades à satisfação das necessidades básicas humanas.

Nesse sentido, para a sustentabilidade ambiental das atividades públicas e privadas, o pressuposto da equalização de conflitos, necessário à amenização das pressões sociais sobre o meio ambiente, é gritante. Pode-se exemplificar com a atual guerra em que a Rússia invadiu a Ucrânia e, com isso, acarretou quebras de suprimentos de, principalmente, hidrocarbonetos (petróleo, gás…), fertilizantes (potássio, nitrogenados, fosfatados, etc…), cereais e grãos. Assim, as demandas ambientais por esses produtos serão ainda mais incentivadas, ao invés de serem superadas pela inovação com técnicas mais sustentáveis.

Continuando nessa abordagem, e reafirmando que os vetores “ESG” são vértices de um mesmo sólido, entendemos, ainda, que a Paz, enquanto concretização dos Direitos Humanos, é constante da própria essência dos investimentos sustentáveis. O próprio conceito desses Direitos, que, vale ressaltar, pressupõe uma série de Deveres correlatos, destaca-se como sendo a concretização dos 5 direitos essenciais constitucionalmente previstos (Vida, Liberdade, Propriedade, Igualdade e Segurança), além dos deles decorrentes, que, resumidamente, significam igualdade de oportunidades.

Quando, por exemplo, para mantermo-nos nos efeitos nefastos do conflito Rússia X Ucrânia, há a exclusão de milhares de individualidades, e respectivas coletividades, com todas as suas capacidades e potencialidades, a sustentabilidade econômica e social dos empreendimentos “ESG” não é respeitada, produzindo, como subprodutos, a miséria, a carência, a violência e a corrupção. Em suma, é preciso frisar que a quebra da Paz é contrária aos Direitos Humanos e, portanto, à coluna “ESG”.

Dessa maneira, como a destruição da Paz contribui para o esgarçamento do tecido social, o ilícito e a corrupção, impulsionados pela “lei da força”, prosperam, e como ervas daninhas, sufocam as melhores iniciativas privadas e públicas. Ou seja, e retornando ao exemplo anterior de guerra no Leste Europeu, mas que facilmente poderia ser transposto para as realidades das periferias abandonadas brasileiras, milícias e outros grupos inescrupulosos prosperariam nesse cenário de anomia, injustiça e falta de Instituições, impossibilitando o desenvolvimento sustentável da região.

Ainda, a censura, a desinformação e o controle das Liberdades facilitam os processos de “greenwashing” (mudanças cosméticas que objetivam a manutenção de práticas insustentáveis sob a aparência da sustentabilidade). 

A transparência é o melhor antídoto contra a corrupção, e a não é possível construir estruturas transparentes em ambientes em que a Paz não esteja presente. Em uma ideia mais simples, podemos afirmar que estão eivadas de insustentabilidade as práticas que não deitem seus fundamentos nela.

Resumindo, em cenários de anomia, violência, deficiência institucional e guerra, as coletividades envolvidas são aprisionadas em nefastas masmorras de estagnação econômica e social, em que as bases civilizacionais da prosperidade e da Justiça entram em decadência. Um fácil exemplo disso já pode ser observado com as estatísticas referentes aos índices de desenvolvimento humano da Ucrânia, da Rússia, e de todas as regiões envoltas em miseráveis conflitos…

Em síntese, podemos repisar que a Paz não só é desejável, como também é necessária à concretização das estruturas humanas e sociais fundamentais à atividade criativa e, assim, à inovação. 

Ou seja, a busca de uma cultura de Paz mediante o manejo de políticas públicas adequadas constitui elemento essencial às práticas “ESG” para que seja inaugurado um ciclo verdadeiramente humano de Desenvolvimento Econômico e Social.

ANDRÉ NAVES

Especialista em Direitos Humanos e Sociais.
Defensor Público Federal. Escritor, Palestrante e Professor. Conselheiro do Chaverim, grupo de assistência às pessoas com Deficiência. Comendador Cultural.
Colunista do Instituto Millenium, além de diversos outros meios de comunicação. www.andrenaves.com