Alma

Alma

            Lembram lá atrás quando eu falei de Walter Gropius e da escola Bauhaus de arquitetura e design? Eu até usei uma fonte não-serifada, que rimava mais com o sabor modernista… Lembraram? Faltou um detalhe que, de tão importante, era a alma daquela história…

            Pra contar essa história de som e fúria a gente precisa de uma trilha sonora especial. Intensa e solene. Emoção pura. Sinfonia n. 2 de Gustav Mahler, “Ressurreição”! Pra quem gosta, e eu aprecio bastante, que tal uma taça de vinho? Uma dose de whisky? Uma cachacinha?

            Sabe qual é a alma da Bauhaus? Era a Alma… Alma Mahler, cuja artes criativas explodiam pelos poros numa chama de crise e caos. É nessa baderna, nesse solo revoltoso, que as mais belas flores criativas podem ser cultivadas. Dia a dia, disciplinadamente, sob as lágrimas e os risos…

            Alma era filha de um grande pintor vienense, Emil Jakob Schindler. O lirismo era seu parceiro de vida. Seu humor, como o dos grandes artistas, era um café forte de torra escura: amargo e delicioso. Perfumado e inacessível aos incautos. Um alerta: “não se aproxime, mas se for, que vá até o fim”!

Quando os europeus pensavam na América, eles tremiam de medo. Europa era o cosmos, o controle, a linha reta. A gente era o caos, o imponderável, a curva… Alma tinha essa selvagem essência americana… Um tigre que nunca se domestica!

Compositora desde criancinha, casou com seu grande mestre, Gustav Mahler! Surpresa! Ele queria que ela fosse bela, recatada e do lar. Nada contra! Se alguém quiser ser feliz assim, eu acho lindo. Mas esse nunca foi o caminho dela! Gustav queria engaiolar o tigre! Felinos não são canários…

Brigas! Explosões! Gritos! Ranger de dentes!

Quanto mais Gustav abafava Alma, mais ela o feria em busca de ar, de Liberdade, de Criação!

Sabe as sinfonias de Mahler? Foram compostas nessa atmosfera de perfume e fedor. Acho que por isso são tão estupendas! O estrume é adubo… O milho só vira pipoca quando passa pelo fogo! A pérola só nasce da ostra incomodada!

O casamento já ruía como pau a pique na tempestade. Antes que Gustav pudesse fazer algo para se redimir, ela conheceu Walter Gropius… Na verdade, ela conheceu muito bem! Tanto que depois da morte de Mahler, se casaram.

E mais uma vez as cores da Alma brilharam! Ela não era arquiteta nem designer, mas a arte era o perfume que sua pele exalava. Sempre que a gente vê uma obra de Gropius, a gente enxerga a alma da Alma… Foi ela o fogo que fez a fornalha gritar! Ela era a corredeira que movia o monjolo!

Mas… Nenhuma alma inquieta consegue descansar… Aos poucos, a música de Walter não cabia mais na partitura de Alma… E assim como se conheceram, se desconheceram… Ela foi beber da lírica de um novo poeta, Franz Werfel, quando o cosmos europeu gestava o bolor nazista.

O caos aportou na América. Los Angeles. Alma caiu em braços de anjos, embalada pela poética de Werfel.

Mas, os ídolos nunca morrem, não é mesmo?  Até o dia de sua morte ela ainda prestava homenagem a seu grande mestre, tão incompreendido como genial, Gustav Mahler. Na lápide, até hoje, Alma Mahler-Werfel!

Alma iluminada, poética!

Alma LIVRE!

André Naves.:

Defensor Público Federal. Especialista em Direitos Humanos, Inclusão Social e Economia Política. Escritor. Estrategista. Comendador Cultural.

www.andrenaves.com

Instagram: @andrenaves.def

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